São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997 |
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Novo patamar de importação é incógnita
LUIZ ANTONIO CINTRA
Essa é a análise de economistas ouvidos pela Folha, que concluem: é certo que o Real criou um novo patamar de importações. Bem mais complexo para a equipe econômica é estimar quanto o Brasil vai importar quando a economia estiver crescendo a uma taxa anual de, por exemplo, 3,5%. Dalton Gardimam, economista-chefe no Brasil do Deutsche Morgan Grenfell, por exemplo, diz que o desconhecimento desse novo patamar de importações é o grande problema da economia. "O desconhecimento do novo coeficiente de importações é um grande gerador de incertezas", considera o economista. Para ele, esse índice cresceu nos últimos anos e "não há sinais de que se estabilizou". Ele cita como exemplo o aumento da participação dos importados no consumo de bens intermediários. Estima, nesse caso, que o coeficiente cresceu de 10%, antes do Real, para algo em torno de 24%. O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega diz acreditar que a dificuldade em definir esse novo patamar de importações ajuda a entender a razão do governo ter optado por medidas pontuais. Para ele, apesar de ser difícil de precisar o novo nível das importações, estas devem crescer, a partir de 98, algo em torno de 10% ao ano, contra uma taxa de crescimento estimada de 18% para 97. "Uma economia como a brasileira, em transição, deixa muitas incógnitas. Por isso o governo tem agido com cautela", diz. Para ele, o problema das contas externas limita as possibilidades de crescimento do país. "Se fosse possível liberar as restrições às importações, poderíamos crescer algo como 8% (do PIB) ao ano. Mas enquanto as reformas estruturais não forem aprovadas e implementadas, sempre que o país ensaiar o caminho na direção de seu potencial, o governo pisará no freio", conclui. Para o economista Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central, decidir pela redução do ritmo de atividade da economia "é uma não-resposta (do governo)" ao problema das contas externas. "O PIB não pode crescer menos de 4% ao ano, porque isso significa aumentar o desemprego e os problemas sociais. Por isso a questão é saber como crescer sem perder o controle das contas externas." Ele defende que o governo libere o mercado de câmbio, que hoje é definido por meio de leilões de compra e venda de dólar. "A política cambial perdeu a credibilidade. Por isso o governo deveria deixar que o mercado decidisse que câmbio deseja." A proposta de liberar o câmbio, no entanto, é bastante polêmica. O presidente do Banco de Boston no Brasil, Carlos Craide, por exemplo, considera-a "loucura". "A liberação do câmbio poderia fazer o mercado variar mais de 10% em um único dia, o que seria insuportável", afirma Craide. Para ele, no entanto, a inflação sob controle facilita uma redução da valorização do real. Eduardo Giannetti da Fonseca, economista e professor da USP, diz que antes de pensar em corrigir o câmbio é preciso levar em conta os requisitos para essa correção. "Seria preciso reduzir a demanda da economia, reduzindo as importações e aumentando as exportações, além de um esforço de ajuste fiscal", diz ele. Para Giannetti da Fonseca, o Real é responsável apenas "em parte" pela dificuldade do país ter taxas sustentadas de crescimento. "Em parte, é responsabilidade do Real esse crescimento medíocre. Mas também é um encontro com a realidade brasileira." Entre os pontos que afloraram, diz ele, está a baixa taxa de poupança interna da economia. "Com isso estamos sem perspectivas de ter um crescimento consistente e sustentado nos próximos dois ou três anos", conclui. Texto Anterior: Importações mantêm ritmo Próximo Texto: Ibrahim Eris defende liberação do câmbio Índice |
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