São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Relojoeiro é profissão quase extinta

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Abnegação. Essa palavra complicada, que significa dedicação total, é uma das principais qualidades do relojoeiro, profissão que, atualmente, está quase extinta.
Antiquários, lojas especializadas e relojoarias ainda mantêm esses profissionais, para prestar serviço de assistência técnica a relógios antigos, como carrilhões e cucos, muitos deles importados.
Contribui com a extinção da profissão a preferência, hoje em dia, por relógios eletrônicos "descartáveis" -mais baratos do que os de marcas tradicionais e menos visados em assaltos.
Longe de fabricar relógios, os relojoeiros trabalham na reparação de peças. Algumas, raras, precisam ser fabricadas artesanalmente por esses profissionais.
Mesmo grandes fábricas do setor deixaram de empregar esse especialista. A Dimep, por exemplo, não tem nenhum em seu quadro de funcionários.
"Temos 400 técnicos, mas nenhum é relojoeiro", diz Maria Mauricéia da Costa, 20, que trabalha com administração de pessoal. Hoje quem conserta esses relógios são técnicos -de acordo com sua área de especialização.
A técnica do relojoeiro à antiga é ensinada longe das escolas, na prática, nessas lojas. O ofício passa de pai para filho e não garante uma boa remuneração.
No início, R$ 600 é quanto o profissional recebe. Com o tempo, ele pode passar a uma remuneração de até R$ 3.000, mas com poucas oportunidades de trabalho.
Um dos que sobrevivem no mercado ainda é da época que havia curso no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).
Claudomiro Gonçalves Moraes, 44, está há 18 anos na assistência técnica da rede Top Time, que emprega, em oito lojas, 18 relojoeiros.
Em três anos, ficou aprendendo a consertar relógios em período integral -das 7h às 17h. Ao final do primeiro ano, já tinha a qualificação de torneiro relojoeiro, função em que é exigido o desenvolvimento da habilidade manual.
No segundo ano, era ensinado a diversificar marcas e modelos para, no terceiro, aperfeiçoar as técnicas e o aprendizado tecnológico.
"Algumas marcas ainda têm anos pela frente. Mas cursos específicos são dados hoje ou nas próprias fábricas ou nas lojas."
O próprio Senai pensa em retomar o curso de relojoeiro -como uma modalidade de outro curso mais amplo, o de joalheiro. Mas nada está definido ainda.
Mestres relojoeiros se queixam que jovens não procuram a profissão pelo fato de não proporcionar retorno financeiro a curto prazo.
Isso já acontecia entre os alunos do Senai. Da turma de Moraes, dos 30 que iniciaram o curso, só 5 chegaram ao final.

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