São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997 |
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Palavras e baionetas
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - Passando recibo da crise que atravessa, o presidente da República excedeu-se no nhenhenhém. Mais uma vez, verbalizou o nada para omitir a realidade. De novo, só falou em baionetas -recurso natural para todo governante que perde o comando da situação.O fato substantivo da crise é simples: deputados venderam seus votos para aprovar o sonho de FHC, que é a reeleição. Se eles venderam, é por que alguém os comprou. Não foi madre Teresa de Calcutá nem frei Damião que compraram esses votos. E o crime beneficia a quem? Ao ex-ditador do Zaire? Às comemorações dos 90 anos da Dercy Gonçalves? Como se não bastasse esse raciocínio óbvio, base de qualquer investigação criminal (exclusão de suspeitos e saber a quem o crime beneficia), há pistas que têm a mesma consistência do crime já admitido pelos criminosos. Uma das pistas é o ministro Sérgio Motta. O presidente teria adquirido moral se imitasse Itamar Franco num caso parecido, quando afastou um auxiliar até que a verdade fosse apurada. Cresceram os dois, Itamar e o auxiliar. Empurrar pela goela da sociedade a insinuação das baionetas é sinal de desespero. Há desordem no país, é certo, mas ela vem de cima, de um governo mergulhado no próprio umbigo e querendo alucinadamente ficar no poder, sem largar o osso. O chassi da crise que o presidente atravessa é moral. Ele quer ficar no poder; está usando todos os recursos da máquina administrativa e política para isso. Surgem os escândalos e ele despeja a culpa na oposição e nos descontentes. Primário demais. Ameaça apurar responsabilidades, mas se empenha dia e noite para impedir uma CPI que poderá chegar até ele. Uma boa pergunta: quanto está valendo um voto contra a formação da CPI? Os vendedores serão outros, mas certamente os compradores serão os mesmos. Texto Anterior: A vida útil de um escândalo Próximo Texto: Mesma fachada; intenções diferentes Índice |
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