São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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A vida útil de um escândalo

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - A expectativa de vida média de um escândalo no Brasil é diretamente proporcional ao grau de desenvolvimento do país.
Tome-se o caso Whitewater, nos EUA. Arrasta-se há anos, desde quando o presidente Bill Clinton era governador de Arkansas.
Aqui, a frase mais ouvida sobre o caso da venda de votos a favor da emenda da reeleição é a seguinte: "Mais uma semana e isso aí morre".
A primeira reportagem sobre o caso foi publicada pela Folha na edição de 13 de maio. Portanto, há 13 dias, incluindo a data de hoje.
Nos primeiros quatro dias, a repercussão era natural. Foram quatro reportagens inéditas sobre os diálogos de Ronivon Santiago e João Maia.
Depois, a boa alma que se arriscou para fazer as gravações, o "Senhor X", ainda proporcionou alguma sobrevida ao escândalo. Deu uma entrevista à Folha dizendo que tinha mais fitas gravadas, mas que não desejava divulgá-las. Pelo menos por ora.
Depois disso, o fato mais importante foi o discurso das "vozes estridentes" de FHC. O presidente disse que tudo deveria ser apurado "a fundo". E só.
É quase desnecessário dizer que o presidente foi atendido com prazer pelo "establishment", que interpretou o discurso conforme queria o Planalto.
Outra consequência ainda por vir é a possível queda formal do ministro Sérgio Motta, que foi citado por Ronivon e Maia como um dos envolvidos na compra de votos por 200 dinheiros.
Motta já caiu de fato do pedestal em que se empoleirava. Agora, ministros e tucanos de alto coturno dizem que sua situação continua insustentável. Mas isso o tempo dirá.
Já a oposição continua preparando atos de protesto. A oposição brasileira é assim mesmo, adora usar os verbos no gerúndio. Está sempre "preparando" alguma coisa.
Com isso, a vida útil do escândalo da venda de votos fica ameaçada. Assim como o caráter da nação.
Para resumir: cada país protesta contra as suas mazelas do jeito que bem entende. E do jeito que merece.

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