São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

o problema não é a TV

FRANCISCO B. ASSUMPÇÃO JR.

Há alguns dias li a declaração de especialistas afirmando que a TV comercial interfere na formação/deformação da opinião pública e na funcionalidade da mente por sua pressão e persuasão.
A TV é sistematicamente posta no papel de vilã. É claro que pela sua força de penetração, ela tem o poder de interferir na formação da criança e do ser humano de modo geral. Entretanto, isso ocorre não porque é a televisão, mas sim porque ela representa o modelo cultural de sociedade.
Assim, se temos que nos preocupar com algo, não é com a TV, e sim com o que somos e passamos pela TV. Dizer que a violência aumenta porque passamos desenhos dos Cavaleiros do Zodíaco é esquecermos que essa violência é parte integrante da nossa cultura, valorizada por nós mesmos.
O processo de deformação é um processo cultural e social, e a TV é meramente um instrumento dessa cultura e dessa sociedade. Jogar sobre ela a responsabilidade do processo de desintegração social, de frouxidão de costumes e de caos vigente é responsabilizar o instrumento em local de seus criadores, nós mesmos.
É o uso que a família faz da TV que vai se refletir no uso que o seu filho vai fazer dela. Não adianta limitar os horários se as crianças não têm opções para preencher o seu tempo. Elas não aprendem com discursos, mas sim por atitudes. Não há sentido em mandar uma criança ler se os próprios pais não dão exemplo.
Diretor do Serviço de Psiquiatria Infantil do Hospital das Clínicas

Perguntas para a seção "Pais e Filhos" devem ser enviadas por carta ou fax para Revista da Folha, al. Barão de Limeira, 425, 8.o andar, Campos Elíseos, CEP 01290-900, São Paulo. Fax (011) 224-4261.

Texto Anterior: dentista para deficientes
Próximo Texto: A vez das garotas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.