São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Pelada na várzea do futuro

XICO SÁ

Uma pelada de futebol vale, no mínimo, por 90 minutos de análise. Jogue o que jogar, seja você um refinado meia-atacante ou um tosco beque-de-fazenda.
Mesmo diante da quase extinção dos campos de várzea, esse prazer primitivo resiste. Os campos de grama sintética tomam conta da cidade e são uma boa opção para compensar a falta de áreas de lazer em São Paulo.
Para jogar uma vez por semana, à noite, o custo mensal é a partir de R$ 420. Se o jogo for à luz do dia, o preço cai para a metade.
É a várzea do futuro nas cidades desenhadas pelo furor imobiliário. Às vezes parece que você está jogando sobre o carpete do Salão Verde do Congresso, em Brasília, mas tem uma série de vantagens.
Algumas delas: cansa menos que na grama natural ou areia e os campos têm iluminação, o que permite uma pelada "after-hours" até 0h30 da madrugada.
Um bate-bola por volta da meia-noite torna-se o mais divertido encontro com os nossos fantasmas. Vale por um dia no divã.
A pelada, racha ou baba, como também é chamada, vai além dos benefícios ao corpo, atende a uma demanda existencial. Não foi à toa que o escritor-goleiro Albert Camus disse que tudo que aprendeu na vida devia ao futebol.
Durante uma pelada, o camarada abre as portas da percepção, expõe suas fraquezas, mesquinharias, acerta a canela do seu rival no amor -aquele Don Juan que flerta e persegue a sua mulher.
Caso seja um jogo da firma, o sujeito aproveita também para cutucar o seu superior hierárquico. É a vingança contra a "Qualidade Total" e outros fetiches liberais que ele tanto preza.
Vale tudo na dramaturgia de uma pelada, menos beijo na boca na comemoração do gol.

ONDE ENCONTRAR Playball: r. Nicolas Boer, 66, Pompéia, tel. 861.3208. Av. Thomás Edson, 1.234, Limão (entrada pela Marginal do Tietê), tel. 826.6494. R. Aruaba, 482, Vila Leopoldina, tel. 832.2468. Planeta Bola: av. Pirajussara, 4.311, Butantã, tel. 849-0802.

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