São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 1997
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Maior temor é rever o assassino

Reconhecimento na polícia reaviva trauma

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Se quiser a condenação do homem que matou seu irmão, J.P. terá que fazer o que as vítimas do medo mais temem: encontrar-se com o acusado no tribunal e reconhecê-lo formalmente, ou seja, reviver a situação traumática.
J.P. é testemunha no processo contra os ex-PMs acusados da chacina de Vigário Geral. Ela e a família foram ameaçadas e tiveram que se mudar da favela.
J.P. depôs sob proteção da Polícia Federal e, aos prantos, disse ser capaz de identificar o homem que matou o irmão, mas se recusou a dizer o nome dele por ter recebido ameaças de morte. O reconhecimento deverá acontecer no próximo julgamento.
Com medo, J.P. não sai sozinha de casa e só dorme depois de tomar tranquilizantes. Seu casamento acabou porque o marido queria ela desistisse da idéia de apontar o assassino.
"Já perdi tanta coisa, quero ir até o final. Eu preciso condenar essa pessoa para ter paz", afirma J.P., que recebe assistência jurídica e psicológica do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.
A doméstica Lindinalva Conceição da Silva também não sai na rua sem achar que está sendo perseguida pelos homens que mataram seu filho Wellington, 17, em Duque de Caxias (município da Baixada Fluminense).
Em agosto de 93, o garoto foi espancado dentro de um ônibus. Testemunhas disseram que ele foi cercado e espancado por três seguranças da empresa de ônibus, por não ter dinheiro para pagar a passagem.
O garoto teve traumatismo craniano e ficou cinco meses em coma. Foi ameaçado até no hospital e morreu em junho de 94. Sua mãe teve que se mudar do bairro, foi apedrejada e perseguida.
Com medo, as testemunhas desistiram de depor. Lindinalva entrou na Justiça com um pedido de indenização. Ela guarda todos os pertences do filho e sonha constantemente que sua casa está sendo invadida. No último sonho, viu um corpo decapitado.
Não teme ser fotografada. "Quem quer me matar já me conhece. Se aquela cabeça era minha, não sei. Sei que quero justiça para meu filho."
(FE)

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