São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 1997
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Pesquisa revela artista barroco anônimo

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Um artista anônimo do século 18 está sendo considerado um dos maiores entalhadores em madeira do barroco mineiro, ao lado de Aleijadinho.
Ele é conhecido como Mestre de Piranga, devido à concentração da maioria de suas obras nas igrejas da região de Piranga (190 km a sudoeste de Belo Horizonte), que, há 200 anos, foi local de grande extração de ouro.
Apesar de não haver nenhum registro conhecido sobre sua vida, a pesquisadora Mara Solange Fantini, da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que a semelhança entre as várias obras estudadas permite afirmar que ele realmente existiu.
Serenidade
Há sete anos, ela e a química Claudina Maria Dutra Moresi vêm catalogando obras de procedência garantida de 33 igrejas de 23 localidades da região de Piranga. Já foram catalogadas mais de 80 peças.
Elas atribuíram ainda ao Mestre de Piranga a autoria do crucifixo de cerca de dois metros de altura que se encontra no altar principal da igreja de São Francisco de Assis, em Mariana, cujo autor permanecia desconhecido.
"Ao contrário de Aleijadinho, que usava expressões dramáticas, os santos do Mestre de Piranga têm expressões serenas", explica Fantini.
Outras características peculiares são os cabelos das imagens, com mechas jogadas para trás, e o entalhe das roupas, que têm menos movimento do que nas imagens de outros artistas barrocos.
As bases das imagens do Mestre de Piranga são geralmente irregulares com oito lados ou na forma de nuvem.
Para comprovar a autoria das obras catalogadas, foi feita ainda uma análise química dos pigmentos utilizados para pintar as peças.
Ateliê
Fantini diz, no entanto, que nem todas as peças catalogadas foram efetivamente feitas pelo mestre, que, como o próprio nome já diz, tinha aprendizes em seu ateliê.
"Em algumas peças, percebe-se uma mão mais refinada do entalhador, mas todas as peças foram feitas obedecendo as mesmas características", explica.
Segundo ela, o ateliê de Mestre de Piranga se dedicou, entre 1750 e 1775, a fabricar imagens de santos para atender à grande demanda, na época, por objetos sacros.
As peças eram feitas uma a uma, mas obedeciam sempre a um desenho predeterminado, seguindo a iconografia de cada santo.
Pintura original
Uma exposição aberta esta semana em Belo Horizonte reúne, pela primeira vez, as obras da Escola do Mestre de Piranga. Ao todo são 15 peças, com tamanhos que variam de 23 centímetros a 1,20 metro.
Fantini afirma que todas as peças estão em bom estado de conservação, embora sua pintura esteja escondida por camadas mais recentes de tinta, que nem de longe dão uma idéia do original.
Com o uso de aparelhos de raios X foi possível detectar que a pintura original ainda está intacta e, segundo a pesquisadora, pode ser recuperada caso as peças venham a ser restauradas.

Exposição: Tributo à Escola do Mestre de Piranga (15 imagens sacras do século 18) Onde: Tribunal de Contas de Minas Gerais (av. Raja Gabaglia 1.315, Belo Horizonte)
Quando: até 10 de junho, das 8h às 20h

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