São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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Defesa nega intenção de matar índio

BETINA BERNARDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os defensores de três dos quatro rapazes maiores de idade acusados da morte do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos disseram ontem querer provar que os rapazes não quiseram matar nem assumiram esse risco quando queimaram o índio.
Os advogados Heraldo Paupério (defensor de Antônio Novély Vilanova, 19) e Raul Livino (que defende os primos Tomás Oliveira de Almeida e Eron Chaves de Oliveira, ambos de 19 anos) pediram a realização de exame de sanidade mental em seus clientes.
"Esse exame vai trazer à tona a personalidade deles", disse Paupério. O advogado afirma que não houve intenção de matar o pataxó.
"O fundamental nesse caso é perquirir (investigar, esquadrinhar) a intenção deles, e, evidentemente, não há dolo", afirmou.
Ele disse que, "se houver julgamento", depoimentos prestados ontem por oito testemunhas da acusação à juíza Leila Cury provariam que eles não queriam matar.
Segundo o advogado, se ficar provado que não havia intenção de matar, o caso pode não ir a júri.
Adriano Siqueira, que parou para socorrer Galdino, disse que, quando voltou ao local com policiais, viu que um dos vasilhames usados para jogar o álcool ainda estava com cerca de metade do conteúdo, o que provaria uma das alegações da defesa, a de que os jovens não jogaram dois litros de álcool em Galdino.
A defesa deve utilizar também o argumento de que "pegadinhas" da TV podem ter influenciado o comportamento dos rapazes.
A promotora Maria José Pereira acusa os quatro de homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, uso de meio cruel e impossibilitamento de defesa).
Para a promotoria, os rapazes fizeram a "brincadeira", previram que fim poderia haver e, ainda assim, a realizaram. "O exame de sanidade não se presta a dizer se eles poderiam prever um resultado de morte. O exame só serve para provar se há dúvida séria da integridade mental. Os advogados estão querendo ganhar tempo."
Maria José disse que os rapazes foram instruídos para falar das "pegadinhas" e querem usá-las como pretexto. "Não é possível que os quatro tenham esquecido de dizer isso no depoimento à polícia e só agora tenham lembrado."
Ontem, o menor de idade G.N.A.J., 17, que acompanhava os quatro na noite do crime, depôs como informante.
Ele também falou das "pegadinhas" e disse que não mencionou o assunto no depoimento à polícia porque nada foi perguntado a respeito. Disse que, na época, havia sido instruído por advogados a assumir toda a culpa do ocorrido.
Durante os depoimentos, Araribóia Pataxó, 27, primo de Galdino, começou a chorar e foi retirado do tribunal. Em frente ao prédio, ele gritava que iria lutar pela punição dos acusados.

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