São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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Argentina tem nova central sindical

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

Após 54 anos de monopólio, a poderosa CGT (Confederação Geral do Trabalho) argentina terá que dividir o espaço político do país com outra entidade trabalhista. O Ministério do Trabalho publicou ontem um decreto reconhecendo formalmente a existência da CTA (Central dos Trabalhadores Argentinos), fundada em novembro de 1992 a partir de uma dissidência da CGT.
Pela primeira vez na história da Argentina haverá duas centrais sindicais oficialmente reconhecidas pelo governo, alterando o modelo sindical criado nos anos 40 pelo ex-presidente Juan Domingo Perón e que deu origem ao monopólio da CGT.
"Uma nova central quebra a inspiração fascista do modelo de Perón, o que vai ajudar a modificar a legislação trabalhista no país", disse à Folha Roberto Frenkel, um dos principais economistas argentinos.
A CTA já possui cerca de 660 mil filiados -contra cerca de 2 milhões de trabalhadores ligados à CGT (que fica sendo a maior central sindical do país).
A nova central controla os sindicatos de funcionários públicos federais, de professores, aeronautas e portuários. A CGT tem sob controle os sindicatos de metalúrgicos, bancários, do setor de saúde e das empresas de energia. Até o início da noite de ontem, a CGT não havia se pronunciado sobre a formalização da CTA.
Para obter seu registro definitivo junto ao Ministério do Trabalho, a CTA terá que realizar uma eleição em todo o país para que seus filiados confirmem a vinculação sindical deles junto à central.
Reforma trabalhista
Agora que está reconhecida pelo governo, a CTA vai reivindicar sua participação nas negociações sobre a reforma trabalhista, que vem sendo discutida entre a CGT, o governo e as maiores federações empresariais da Argentina.
"Não queremos flexibilizar os direitos já existentes e não concordamos em aumentar o número de horas trabalhadas como forma de combate ao desemprego, conforme defende a CGT", disse Nestor Piconi, diretor da CTA.
Segundo ele, a CTA também vai defender um salário mínimo de US$ 450 para os chefes de família que estejam desempregados e a participação de micro e pequenas empresas na mesa de negociações.
Partidos
Para Frenkel, o regime militar argentino (1976-1983) sempre quis "impedir uma representação de esquerda dentro do cenário sindical da Argentina", o que pode estar mudando a partir da formalização da CTA.
Tradicionalmente, a CGT sempre esteve ligada ao peronismo. Nos últimos anos, se aliou ao Partido Justicialista, controlado pelo presidente Carlos Menem.
Segundo Nestor Piconi, da CTA, a nova central irá atuar com os partidos de oposição ao governo Menem (União Cívica Radical, Frepaso, comunistas e socialistas).

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