São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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'Traído', Ronaldinho deixa Barcelona

MARCELO DAMATO
ENVIADO ESPECIAL À NORUEGA

Um dia depois de anunciar que o atacante Ronaldinho iria renovar seu contrato com o Barcelona, os procuradores do jogador e os dirigentes do clube chegaram a um impasse definitivo. O clima de euforia, que havia na cidade no início da noite de anteontem, mudou para surpresa e depois frustração.
"As negociações acabaram. Acredito que Ronaldinho vá jogar na Internazionale de Milão, na próxima temporada", declarou ontem à noite, em Barcelona, o presidente do clube espanhol, Josep Luis Nuñez.
A declaração aconteceu após três horas de reunião com um grupo de advogados. Ele queria uma solução que fosse aceitável pelo jogador e por ele mesmo.
"Eles (dirigentes do Barcelona) colocaram no contrato termos diferentes do que haviam sido acordados", acusou Reinaldo Pitta, um dos procuradores do jogador.
Para o procurador, o futuro de Ronaldinho não está mesmo no Barcelona. "É um clube que temos que respeitar, mas paramos totalmente as negociações. Anunciaremos o novo clube de Ronaldinho na semana que vem."
O motivo do rompimento é uma luva de US$ 14 milhões que o clube espanhol prometera a ele em outubro para quando houvesse a primeira renovação de contrato.
Nuñez quis pagar o dinheiro fazendo um depósito em um paraíso fiscal. Se Ronaldinho quisesse trazê-lo para a Espanha, teria que pagar os impostos, o que seus procuradores rejeitaram. Exigiram um depósito na Espanha, o que o presidente do clube catalão recusou. Para o jogador, isso significa uma diferença de US$ 7 milhões.
Ontem à noite mesmo, os procuradores Reinaldo Pitta e Alexandre Martins deixaram Barcelona. O representante do jogador na Europa, Giovanni Branchini, esteve o dia todo em Munique para ver a final da Copa dos Campeões, entre Borussia Dortmund e Juventus.
Hoje, Branchini deve voltar para Milão e tratar com a cúpula da Internazionale os detalhes para a assinatura de contrato.
Catalunha
Durante os últimos dias, as negociações sobre o futuro de Ronaldinho causaram comoção na Catalunha, onde o jogador recebe mais atenção da imprensa do que qualquer outra pessoa da província.
Pela sua atuação no clube espanhol, ele foi eleito pela Fifa, máxima entidade do futebol, o melhor atleta do mundo em 96. O brasileiro é também o artilheiro do Campeonato Espanhol, com 34 gols.
Desde anteontem, dezenas de jornalistas aglomeraram-se na frente da sede do clube, da casa do jogador, do hotel onde dormiam seus procuradores, e do escritório de Nuñez, no centro da cidade.
Uma emissora local de TV chegou a fazer boletins ao vivo, da frente do clube, pela manhã.
O fracasso na renovação desse contrato pode ter efeitos maiores para a cúpula do Barcelona. A imprensa, que já vinha criticando o presidente Nuñez pela lentidão em resolver o caso do jogador, deve aumentar a pressão sobre ele.
Nuñez preside o clube há 19 anos. Pensava em adiantar as eleições, previstas para 98, para tentar o quinto mandato de cinco anos.
A perda de seu principal jogador -e a provável saída de Guardiola, o mais destacado atleta espanhol da equipe- podem levar ao surgimento de uma candidatura de oposição no próximo pleito.
Guardiola pediu para sair porque não se conforma com um salário de US$ 500 mil por ano, ou US$ 40 mil por mês, menos até do que vários jogadores brasileiros que nem estão na seleção, como Túlio, Marcelinho, Donizete e André.

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