São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Euro sofre ameaças à direita e à esquerda

PIERRE HASKI
DO "LIBÉRATION"

Os parceiros da França na União Européia não haviam previsto a derrocada da direita no primeiro turno e agora vêem, com inquietação, as consequências do domingo para a construção européia e sua "aposta" mais importante: o euro (a moeda única européia).
Os europeus observaram que Lionel Jospin impôs novas condições para a participação francesa na moeda única, enquanto Jacques Chirac e Alain Juppé se posicionaram como guardiães da ortodoxia de Maaastricht. Um mês depois, qualquer observador teria razões para se preocupar ao assistir ao sucesso de Jospin, aliado a certos atores da coalizão anti-Maastricht de 1992, enquanto Juppé se eclipsava em benefício de Philippe Séguin, outro partidário do "não" ao tratado da União Européia.
Acrescente-se a isso os 15% dos votos obtidos pela Frente Nacional, e o que transparece é uma França incerta, temerosa e paralisada por seus arcaísmos. É o que basta para concluir, como o faz um pouco apressadamente o "The Guardian" britânico, que "70% dos franceses votaram nos partidos que se opõem à interpretação atual de Maastricht".
Conscientes da intranquilidade que suscitaram, os socialistas procuraram emitir sinais apaziguadores. O próprio chefe socialista procurou abrandar sua posição, ao dizer que aquilo que, no início da campanha, pareciam ser "condições" para a participação na moeda única já não o são, realmente: "Impõem-se condições e abre-se uma discussão. Nunca se postula algo tipo 'é pegar ou largar'".
Essas declarações tranquilizadoras reforçam a suspeita de que a esquerda não vai assumir a responsabilidade histórica de acabar com o euro. Esse postulado é o principal elemento tranquilizador aos olhos dos dirigentes alemães, especialmente, que temem ser obrigados a rever um filme antigo: o da Comunidade Européia de Defesa (CED), proposta pela França socialista nos anos 50 para "enquadrar" o rearmamento alemão e depois derrubada pelo próprio Parlamento francês em 1954.
Será que a história se repetiria, desta vez, em torno do casamento do franco francês e do marco alemão dentro do euro? Se Jospin vencer, terá de tranquilizar seus parceiros sobre esse ponto. Se Séguin dirigir um governo de direita, enfrentará o mesmo desafio.
Nem uma esquerda confrontada com desafios internos nem uma direita enfraquecida podem conduzir o menor projeto europeu nos próximos anos. Para os parceiros de Paris, é mais uma razão para não se fragilizar ainda mais o projeto monetário, hoje o único que ainda sustenta a integração.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Abstenção alta pode prejudicar a direita
Próximo Texto: Séguin defende discutir Massatricht
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.