São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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Há elo entre câncer e poluição, diz estudo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dois pesquisadores italianos afirmam ter obtido a prova de que a poluição do ar causa diretamente o aumento do câncer do pulmão. Faz meio século que a medicina debate o tema, à procura de demonstrar inequivocamente essa relação de causa e efeito.
Os dois italianos utilizaram um "bioindicador" para obter a prova -o efeito da poluição nos líquens.
Os líquens são um tipo de organismo vegetal que constitui uma associação mutuamente benéfica entre uma alga e um fungo (a alga provê o alimento, e o fungo obtém água e proteção ao conjunto).
Os líquens geralmente vivem sobre rochas e cascas de árvores e são sensíveis a uma gama de poluentes, por isso podem servir de "indicadores" para esse tipo de problema.
Cesare Cislaghi, do Instituto de Estatística Médica da Universidade de Milão, e seu colega Pier Luigi Nimis, do Departamento de Biologia da Universidade de Trieste, fizeram o correlacionamento da biodiversidade dos líquens com dados municipais de mortalidade por doenças no Vêneto, uma região do norte da Itália com 18.364 km2 e uma população de 4 milhões de habitantes.
Os dados sobre os líquens vieram de um estudo de 1991, baseado em 2.425 medidas feitas em 662 locais. Foram computadas as diferentes espécies de líquens vivendo em uma mesma área de amostra, produzindo-se com isso um "índice de biodiversidade".
Os pesquisadores notaram uma correlação entre a biodiversidade menor dos vegetais e a concentração maior de poluentes como óxidos de enxofre e poeira.
"Líquens são notoriamente sensíveis a dióxido de enxofre", escreveram eles na edição de hoje da revista científica britânica "Nature".
Mortalidade
Mas a maior surpresa foi quando foram comparadas as estatísticas de mortes por câncer do pulmão em homens, nativos e residentes, de menos de 55 anos.
Os dois mapas -um com o índice de biodiversidade e outro com a mortalidade nessa faixa etária -se complementaram quase perfeitamente.
Em compensação, não foi achada uma correlação entre mulheres (13% do total das mortes por câncer pulmonar). Também não se notou a mesma correlação em relação a homens não-nativos da região.
O índice de biodiversidade também não apontou uma relação da poluição com os casos de outros tipos de câncer, como o da laringe, ou com a mortalidade por bronquite crônica (particularmente elevada nas regiões montanhosas do Vêneto).

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