São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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Investigação barra obra suspeita no Acre

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Investigações iniciadas ontem pela Procuradoria da República no Acre suspenderam o começo das obras de reforma da Penitenciária de Rio Branco, contratada pelo governador Orleir Cameli (sem partido). A licitação, sob suspeita, foi vencida pela empreiteira Econcel.
Segundo o empresário Fernando Bonfim, ex-assessor do governo do Amazonas e ex-presidente da Econcel, a empreiteira pertence ao governador Amazonino Mendes (PMDB). Bonfim reforça a sua informação definindo-se como "testa-de-ferro" do governador.
Amazonino e Cameli foram citados pelos ex-deputados do Acre Ronivon Santiago e João Maia, segundo fitas reveladas pela Folha, como intermediários na compra de votos a favor da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A obra da penitenciária, no valor de R$ 3,4 milhões, é suspeita de fazer parte do acordo que envolveu a compra de votos.
O ex-deputado João Maia diz, na sua conversa gravada, que existem "grandes acertos" entre os governadores do Acre e Amazonas.
"Vá lá no Amazonas e veja o que a Marmud (empreiteira de Orleir Cameli) está pegando para fazer aeroporto no interior", diz Maia, nas conversas com o "Senhor X", como a Folha identificou o interlocutor dos parlamentares.
Como parte dos "grandes acertos" citados pelo ex-deputado, empresas ligadas a Amazonino ganhariam também obras no Acre, como o caso da empreiteira Econcel, agora investigado pela Procuradoria da República.
Existem outros casos do mesmo gênero. A construtora Capa, por exemplo, pertencente a Otávio Raman Neves, amigo e dono da casa onde mora Amazonino, ganhou a licitação do governo Cameli para obras na rodovia BR-364, no valor inicial de R$ 2,5 milhões.
O procurador da República no Acre, Ricardo Nakahira, disse que irá examinar nos próximos dez dias todos os documentos da licitação para a reforma da Penitenciária de Rio Branco.
O início das investigações levou o governo do Acre a suspender o começo das obras até pelo menos a conclusão das apurações da Procuradoria.
Caso detecte irregularidades, Nakahira poderá pedir o cancelamento da licitação, o que obrigará o governador a realizar uma nova concorrência.
A Folha procurou ontem falar com os governadores Cameli e Amazonino e também com os seus assessores, das 14h30 às 18h30, mas não obteve resposta.
Funcionários dos dois governos informaram que seria impossível localizar ontem alguém que pudesse falar sobre o assunto.

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