São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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Coração santo

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Nas comunidades católicas está muito presente a devoção ao coração de Jesus, como expressão de seu amor por nós. Após a morte de Cristo na cruz, o soldado abriu-lhe o lado com a lança, de onde escorreu sangue e água. Derramar o sangue significa dar a vida. Seu coração aberto é a imagem mais forte de sua doação, fruto de amor por nós.
Os santos de todas as épocas encontraram no coração de Cristo tema preferido de sua constante contemplação. Descobriram nesse símbolo a misericórdia infinita de Deus, que em seu filho nos ama, e a generosidade de quem deu tudo para nos salvar. O coração de Cristo revela a paciência com os pecadores, sua bondade em nos perdoar, a compaixão pelos aflitos e o ardor em assumir sua missão.
No mês de junho, intensificam-se os atos de devoção ao Sagrado Coração de Jesus, com a especial intenção de reparar as faltas cometidas contra quem tanto nos amou.
À gratidão pelo dom do perdão soma-se o zelo em propagar o Evangelho, para que Cristo seja mais conhecido, amado e seguido.
Conquistado pelo amor do mestre, o apóstolo são Paulo exortava os discípulos a ter os mesmos sentimentos de Cristo.
Procuremos tirar duas lições. A primeira é a de imitarmos o afeto confiante que Cristo tinha, em seu coração, por seu Pai, cuja vontade buscava sempre cumprir. A outra lição é a da solidariedade conosco que Jesus manifesta, encarnando-se e assumindo nossa condição em tudo, menos no pecado.
Aqui está para nós o melhor modo de nos assemelharmos ao Coração de Jesus, deixando-nos possuir pelos seus sentimentos.
Há fatos recentes que denotam quanto estamos longe de Deus e precisamos crescer na confiança. A violência nos presídios, sequestros, crimes passionais, a corrupção e a busca de riqueza e poder por meios ilícitos, tudo demonstra a ausência de Deus e a necessidade que temos de sua graça em nossa vida.
Na medida em que alguém se afasta de Deus, vai percebendo a impotência diante do cumprimento do dever. Pelo contrário, a oração humilde faz-nos encontrar forças para aderir à verdade e realizá-la, com coerência, na própria vida.
Precisamos, igualmente, da solidariedade de que Cristo nos dá exemplo para vencer o egoísmo, que nos impede de fazer o bem e de transformar a sociedade.
Na praça havia crianças com fome. Uma senhora idosa, com febre alta, aguardava muito tempo no hospital para ser atendida. Lá estava um rapaz com fratura exposta no braço e fortes dores. Ia ser transportado para outra cidade, por falta de ortopedista. Uma jovem, entristecida, lembrava que sua mãe falecera sem o conveniente tratamento. Avisaram-me de que um casal dormiu no coreto, com frio e chuva, por falta de outro teto.
Por que é tão difícil promover a conveniente reforma agrária, a adequação de salários, os serviços de saúde?
É preciso contemplar o coração aberto de Cristo, acreditar no seu amor e pedir que nos ensine a solidariedade e nos ajude a praticá-la.
Quem de nós não conhece situações semelhantes que denotam a enorme falta de fraternidade por parte de pessoas que fecham seus olhos e parecem insensíveis ao sofrimento do próximo? Quem ama sabe partilhar.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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