São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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'MComcast tem relação estreita com Telesp'

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

A Folha acompanhou e gravou a negociação de compra de um aparelho de "trunking" por um empresário paulista. Depois, fazendo-se passar por assessor do empresário, o repórter conversou com os vendedores da MComcast sobre a venda de aparelhos de "trunking" para uso pessoal, como se fossem celulares. Leia a seguir trechos das conversas:
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Folha - Levei o telefone para um churrasco e ele causou uma certa sensação. Mas existe gente que não tem vínculo (com empresas). Como é que faz (para comprar)?
Vendedor - Isso não tem problema. Isso aí a gente tenta... Por exemplo: vamos dizer que ela more num edifício. Que que a gente faz? Vamos lá -nós, e não ela-, falamos com o síndico ou administrador e pegamos uma carta do edifício, não tem problema. A gente tem sempre vínculo com alguma coisa, mesmo que não perceba. Por exemplo: Pinheiros tem uma sociedade dos amigos do bairro. Digamos que a pessoa more em Pinheiros. Ela já tá enquadrada nessa sociedade. Mesmo que não perceba. Mas isso é preocupação nossa.
Folha - Mas isso não pode dar um problema mais tarde, com o pessoal da telefonia celular?
Vendedor - De jeito nenhum. O importante é ficar caracterizado o grupo... Isso fica "ipsis litteris" (literal, de acordo) com o Ministério das Comunicações. Não existe perigo de dar revelia mais tarde.
Folha - O medo é o governo ou o pessoal da banda B reclamarem.
Vendedor - Não podem reclamar em função da carta. Aí é que está o "X" da questão. Por que eu peguei a carta com o dr...? Se vocês quiserem comprar outro aparelho, já tá respaldado pela carta.
Folha - E as outras pessoas que não têm empresa para respaldar?
Vendedor - É isso que eu estou dizendo. A gente é vinculado a alguma coisa, mesmo não sabendo.
Folha - E para um estudante?
Vendedor - Mas ele é vinculado à universidade em que estuda, ao colégio... Porque o que interessa é ter a carta. Depois, pode vir a banda B, banda A, banda C, banda D, não tem problema. Porque isso foi uma exigência do ministério: "Olha, vocês são o serviço móvel especializado. Então vocês têm que ter uma carta formalizando o grupo". Tendo essa carta, isso é que nos interessa. Não precisa reconhecer firma, ir pra cartório. O que interessa é ser papel timbrado.
Folha - Há outros casos em que vocês venderam um aparelho só?
Vendedor - Com certeza. A gente vendeu um aparelho só com a expectativa de vender mais... Um dos nossos primeiros clientes foi uma moça que dá aula de inglês. Só que ela não é vinculada a nenhum curso de inglês... Ela dá aula na casa dela... Ela não se dava bem com o síndico do prédio onde morava. O que fizemos? Ela já tinha sido aluna de um curso de inglês. E ia voltar a esse curso para aprimorar o idioma. Pegamos a carta do curso de inglês formatando (criando) o grupo, e ela, por ser ex-aluna, tava enquadrada dentro do grupo.
Folha - Mas aí havia um grupo sem existir. Precisa criatividade...
Vendedor - O homem de vendas que não tiver criatividade precisa mudar de profissão.
Folha - Mas o que acontece se o serviço for obrigado a fechar? Nós recebemos o dinheiro de volta?
Vendedor - Ninguém investe US$ 200 milhões em equipamentos para jogar fora. A Comcast, uma das sócias, fatura US$ 4 bilhões por ano. Não é pouca coisa.
Folha - Se o governo tirar o serviço, o comprador perde dinheiro?
Vendedor - A MComcast tem uma relação tão estreita com a Telesp e com o ministério que esse problema não existe. Por que nós não estamos mostrando a cara? Porque tem essa abertura das propostas da banda B. Não que isso traga medo. Mas, se a gente lançar uma mídia pesada antes disso, seria uma loucura. A partir de julho nós vamos aparecer.
Folha - A restrição ao aparelho é não poder falar fora de São Paulo.
Vendedor - Mas no segundo semestre nós vamos ampliar para todo o país.
(MA)

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