São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Venda simula grupo para burlar fiscais

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

É muito fácil comprar em São Paulo um aparelho de "trunking" para uso pessoal, como se fosse um celular. A Folha acompanhou e gravou negociação para a aquisição de um desses telefones, feita por um empresário.
A compra de um só aparelho é irregular. A lei só permite o "trunking" como forma de comunicação interna entre grupos de seguranças, de taxistas ou de empregados de uma mesma empresa.
No entanto, a empresa MComcast já os vende na cidade de São Paulo, de forma unitária, para qualquer interessado.
Para isso, os vendedores simulam a existência de uma pessoa jurídica interessada na transmissão de informações entre seus funcionários ou associados. Mesmo que só um aparelho seja vendido.
A simulação envolve a assinatura de um documento-padrão em que alguém, representando uma pessoa jurídica, solicita a formação de um grupo de usuários de "trunking". É com esse documento, segundo os vendedores, que a MComcast afasta a fiscalização do Ministério das Comunicações e impede pressões dos concorrentes da banda B da telefonia celular.
Grupo
Esse documento pode ser assinado pelo próprio comprador, quando ele é dono ou sócio de uma empresa. Mas há outras formas, certamente mais questionáveis, oferecidas pelos vendedores da MComcast: "A cartinha pode ser assinada pelo síndico do prédio do comprador, pelo diretor da escola na qual ele estuda ou até pelo presidente da associação de bairro onde ele mora. Há sempre um jeito", disse um deles.
Apesar da carta, um contrato assinado com a MComcast identifica a quantidade de aparelhos comprados. Esse contrato comprova a venda de telefones em unidades, mas, na visão dos vendedores da empresa, não seriam expostos numa eventual fiscalização. A Folha tem o original do contrato relativo à compra de um único aparelho.
O interessado em comprar um aparelho deve solicitar a visita de um vendedor em a sua casa ou local de trabalho pelo telefone 0800-136113.
O vendedor só é encaminhado depois que o interessado fornece seu CPF (Cadastro de Pessoas Físicas). O atendente não dá qualquer tipo de informação por telefone.
Os vendedores da MComcast são preparados e desconfiados. Só começam a explicar as condições de compra depois que o interessado comprova sua identidade. Segundo um deles, a cautela se deve ao fato de a licitação da banda B da telefonia celular ainda não estar concluída. "Por enquanto pode causar uma certa confusão. Quando isso tudo acabar, nós vamos investir pesado em publicidade", afirmou um deles.
Última geração
Os telefones da MComcast, de marca Ericsson, representam a última geração do "trunking". Batizados com o nome "Metrophone", fazem e recebem chamadas externas da mesma forma que um celular normal. São pequenos, têm tecnologia digital, identificam a origem das chamadas que recebem, fazem reuniões com outros aparelhos e permitem atender uma ligação mesmo durante uma outra que esteja ocorrendo.
O preço de cada um -com linha- é de cerca R$ 1,4 mil.
A MComcast já instalou 45 antenas especiais na cidade de São Paulo, segundo informou um vendedor. Quando um usuário liga para outro aparelho de "trunking", são essas antenas que fazem a transmissão. Nos telefonemas feitos para aparelhos fixos ou celulares, a empresa faz uma conexão com a rede pública.
Por enquanto o aparelho da MComcast só funciona se estiver dentro da cidade de São Paulo. Segundo os vendedores, o serviço estará operando em todo o país no segundo semestre. A conta telefônica é enviada ao endereço do usuário, como se fosse um celular.

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