São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Sindicalista é negociador

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Luiz Marinho foi contratado para o setor de pinturas da Volkswagen, em julho de 78, os metalúrgicos do ABC já haviam ousado enfrentar os militares e realizar, em maio, uma uma das primeiras greves da história do regime.
Daí para frente, nas últimas duas décadas, Marinho viu, participou e liderou centenas delas -só em 85, os trabalhadores do ABC realizaram 900.
Há cerca de três semanas, coube ao mesmo Luiz Marinho, como presidente do sindicato do ABC, declarar que, a partir de agora, os metalúrgicos querem menos greve e mais emprego.
"As greves são caras para empresas e trabalhadores. Temos que aperfeiçoar os mecanismos de negociação", disse ele ao final do congresso da categoria, do qual participaram 70 mil trabalhadores durante cinco meses de discussão.
Na verdade, as declarações de Marinho, que causaram alvoroço nos meios de comunicação e mal estar nos meios sindicais, são antes de tudo constatações.
Desde a redemocratização do país, com a evolução das relações entre empresas e trabalhadores, o número de greves vem diminuindo naturalmente.
Segundo dados do próprio sindicato dos metalúrgicos, houve 77% menos greves na região em 1996 que em 1980.
Mas além da simples constatação, há nas declarações de Marinho o sinal dos novos tempos.
Pressionado pela globalização, que reorganiza a produção industrial e corta empregos, o sindicalismo está substituindo a palavra negociação pela palavra greve.
Reconhecido na CUT como um bom articulador, Marinho está se tornando um dos expoentes desse novo sindicalismo.
Ex-trabalhador rural, há 13 anos na diretoria dos metalúrgicos do ABC -foi tesoureiro, secretário-geral, vice e presidente da entidade-, Marinho se sai melhor em uma mesa de negociação que em cima de um carro de som.
"Eu sei que não sou uma liderança de massa como o Lula e o Meneguelli. Mas quando é preciso comunicar com os trabalhadores, eu me comunico bem", afirma ele.
Nova realidade
Para o presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, Marinho é fruto da nova realidade do sindicalismo brasileiro.
"Ele representa uma fase nova, resultado das atividades dos anos 80 e 90. Se eu estivesse lá na presidência, eu faria a mesma coisa que ele vem fazendo. Ele está cumprindo aquilo que para todos nós é o mais adequado", analisa.
Vicentinho avalia, no entanto, que Marinho enfrenta a pior fase da história do sindicato dos metalúrgicos.
"A crise do desemprego que assola o ABC está dificultando a reação dos sindicatos. Mas eu acho que o Marinho está preparado para essa transição", acha.
"O Marinho é uma liderança jovem, mas em ascensão. Ele tem um longo caminho a percorrer, mas pode chegar aonde quiser", avalia José Lopez Feijóo, presidente da CUT-SP.
Isso inclui, segundo Feijóo, até a presidência nacional da CUT.

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