São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Erva pode curar picada de cobra

MARIO CESAR CARVALHO
DO ENVIADO ESPECIAL À AMAZÔNIA

Erva-botão para picada de cobra, chá de picão para malária e pata-de-vaca para diabete. Esse receituário, típico de curandeiros, é também uma lista de remédios que estão sendo pesquisados por universidades e centros de pesquisa brasileiros.
O químico Walter Mors, 76, professor aposentado da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), pesquisa há dez anos o uso de erva-botão (Eclipta prostata) como antiofídico.
Escolheu essa erva depois de ver seu sucesso entre índios e caboclos da Amazômia. Em laboratório, Mors conseguiu repetir a experiência com sucesso.
Aplicou veneno de jararaca em camundongos e deu a eles um composto com erva-botão. "Não acontece nada com o bichinho. É impressionante", conta. Segundo ele, a erva serviria para qualquer tipo de cobra.
O pesquisador diz que a erva-botão pode ter um uso preventivo. "Já vi caboclos tomando chá de erva-botão quando vão entrar em matas onde há muita cobra", diz.
Segundo Mors, se algum laboratório se interessar pela pesquisa, seria posssível chegar a um remédio em cinco anos.
Japoneses e norte-americanos também estão interessados em ervas com propriedades antiofídicas. Pesquisadores desses dois países analisaram um remédio popular do Nordeste para picada de cobras, chamado Específico Pessoa.
Não conseguiram descobrir quais eram as plantas utilizadas no preparo do remédio.
Contra a malária
O químico Benjamin Gilbert, 67, da divisão farmacêutica da Fundação Oswaldo Cruz, testa uma erva que é largamente usada pelos caboclos da Amazônia: o chá de picão (Bidens pilosa) para o tratamento de malária e hepatite B.
Gilbert sabe que o chá funciona, mas ainda não detectou a razão. "Não sabemos se o picão protege as células do fígado ou se estimula o sistema imunológico", afirma.
O Centro de Plantas Medicinais do Institituto de Estudos e Pesquisas do Amapá está preocupado em evitar que a população da Amazônia contraia malária.
Augusto de Oliveira, 31, diretor do centro, pesquisa repelentes naturais contra o transmissor da malária, o mosquito fêmea do gênero Anopheles. Uma das fontes da pesquisa foram os índios wuaipis, que passam óleo de andiroba no corpo e raramente contraem malária.
Usado como vela, o óleo de andiroba conseguiu reduzir em 50% a incidência de Anopheles numa casa, quando comparada com outra em que não havia o repelente.
Oliveira testa outros três repelentes, mas não revela em que plantas se baseiam porque a pesquisa ainda está em uma fase sigilosa. "Reduzimos em 90% a incidência de mosquitos", conta.
No próximo semestre, o pesquisador do Amapá terá o resultado do teste com 60 pacientes de diabetes melito, tratados com cápsulas feitas com a erva pata-de-vaca.
"Os primeiros resultados são surpreendentes. A erva substituiu perfeitamente a glicose", adianta.
O químico Ângelo da Cunha Pinto, 48, da UFRJ, orienta uma pesquisa sobre o poder da sucuuba (Imathantus sucuuba) no tratamento de tumores. Em laboratório, o extrato da planta conseguiu reparar o DNA de levedura.
A reparação do DNA, molécula que armazena toda informação genética, abre a possibilidade de eliminar o tumor, segundo Pinto.

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