São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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"Poliana" pode gerar atitude conformista

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Chega a surpreender assistir, em 1997, à história de Poliana no teatro. O livro homônimo, de Eleanor Porter, conquistou a simpatia de muitas mães por várias gerações. É uma história que dá bons exemplos de como se comportar em situações difíceis.
Os problemas que essa história apresenta, levados ao palco tais como aparecem no livro, ficam completamente anacrônicos.
Imagine um garoto que vive na cidade de São Paulo de hoje ter prazer em organizar uma quermesse com a igreja de seu bairro.
Pode até ser "muito legal" fazer isso, mas não da forma como essa situação aparece na montagem.
O pior de tudo é o culto ao mito de Poliana, que sugere que as dificuldades sejam encaradas com o espírito de que as coisas poderiam ser piores do que são, e que, portanto, as pessoas devem se contentar com o que a vida oferece.
O jogo do contente de Poliana corre o risco de gerar uma atitude conformista.
O enfrentamento da dificuldade não acontece como no filme "Minha Vida de Cachorro", cuja metáfora, irônica, para aliviar a dor do menino que perdeu a mãe, é a cadela Laika -o pior foi o que aconteceu com Laika, abandonada no espaço até morrer.
"Luna"
A peça "Luna", adaptada e dirigida por Cleo Busatto, é outro exemplo de anacronismo, ainda que o assunto de seu trabalho seja bem diferente do da peça anterior.
Busatto não conseguiu transformar em dramaturgia as boas referências bibliográficas e as propostas do projeto do espetáculo.
A diretora baseia-se em um conto oral italiano de história de princesa. Usa no trabalho três versões, entre elas uma de Italo Calvino. Mas o humor de Calvino e seu distanciamento diante dos temas não aparecem no espetáculo.
"Luna" limita-se a reproduzir corretamente o passo a passo de um conto de fadas.

LEIA a ficha técnica das peças "Luna" e "Poliana" no roteiro para crianças, à pág. 3.

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