São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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França decide hoje se quer a coabitação

MARTA AVANCINI
DE PARIS

Os franceses definem hoje, ao elegerem a nova Assembléia Nacional, se querem mais um governo de coabitação.
As pesquisas de intenção de voto e o desempenho surpreendente dos socialistas, comunistas e ambientalistas no primeiro turno, na semana passada, indicam que é isso o que vai acontecer.
Se for confirmada a tendência, o presidente Jacques Chirac, de direita, vai ter de "coabitar" com um primeiro-ministro de esquerda, provavelmente o líder socialista Lionel Jospin.
A esquerda teve 40,2% dos votos e ficou quatro pontos percentuais à frente da direita. Diante da derrota do governo, o primeiro-ministro Alain Juppé anunciou que vai deixar o cargo, seja qual for o resultado do segundo turno.
Resultados de duas pesquisas divulgadas no final da semana davam uma maioria à esquerda, com até 315 cadeiras, de um total de 577. A direita teria 260 deputados, e a Frente Nacional (extrema direita), duas.
Incerteza
Apesar da vantagem, os socialistas sabem que o resultado está em aberto. "A vitória deve ser muito apertada", disse à Folha Jean-Louis Peninou, membro do setor de relações internacionais do Partido Socialista.
"O voto no primeiro turno não foi a favor da esquerda, mas contra o governo. É um voto de protesto e volátil", disse Henri Rey, diretor do Centro de Estudos da Vida Política Francesa.
O desemprego -que atinge 3,4 milhões de pessoas no país- e a rejeição dos cortes nos programas sociais foram as principais motivações dos franceses no primeiro turno, avalia Rey.
Para Daniel Goy, pesquisador da Fundação Nacional de Ciência Política, o resultado vai depender dos eleitores que não votaram no primeiro turno. "O índice de abstenção foi de 30%. Não sabemos se essas pessoas vão votar e o que vão escolher."
A terceira coabitação da história recente da França, se confirmada, será o inverso das duas anteriores, durante a Presidência do socialista François Mitterrand (81-95). Ele teve dois primeiros-ministros de direita: Chirac (86-88) e Edouard Balladur (93-95).
Essa hipótese era inconcebível há 40 dias, quando Chirac dissolveu a Assembléia e antecipou as eleições marcadas para março de 98. O governo então tinha 464 deputados, e a esquerda, apenas 97.
Um dos pontos mais delicados de uma possível longa coabitação (cinco anos) é a agenda da unificação monetária européia. O governo tem de cumprir o cronograma do Tratado de Maastricht, que prevê a entrada em vigor da moeda única européia, o euro, em 1999.
A esquerda quer rediscutir alguns pontos, para garantir uma transição com crescimento econômico e geração de empregos.

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