São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Ex-ditador deve vencer eleição na Bolívia

MAURO TAGLIAFERRI

MAURO TAGLIAFERRI; HAROLDO CERAVOLO SEREZA
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

General governou o país de 1971 a 78; mandato presidencial será de cinco anos, um a mais que o atual

Com um ex-ditador à frente na preferência dos eleitores, a Bolívia faz hoje sua quarta eleição após a redemocratização do país, em 1982. É o maior período de estabilidade institucional desde 1952, quando uma revolução marca o início de sua história moderna.
O general Hugo Banzer Suárez, 71, que governou o país de 1971 a 78, deve ser o candidato mais votado no pleito de hoje, pela ADN (Ação Democrática Nacionalista).
Em 71, Banzer chegou ao poder após derrubar um regime progressista de outro general, Juan José Torres. No governo Banzer, mais de 200 pessoas foram mortas, e quase 20 mil, exiladas.
O representante da ADN dificilmente obterá, porém, mais da metade dos votos, o que lhe garantiria a posse na Presidência, em 6 de agosto. Deve concorrer contra o segundo colocado, numa votação indireta, no Congresso eleito.
Disputam a segunda vaga o ex-presidente Jaime Paz Zamora, do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária), o governista Juan Carlos Durán, do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), e o empresário Ivo Kuljis, da UCS (Unidade Cívica Solidariedade). Mais seis partidos lançaram candidatos ao cargo.
Uma vitória de Banzer ou de Paz Zamora representa uma derrota para o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada (MNR).
Lozada foi ministro da área econômica de Víctor Paz Estenssoro de 1985 a 89, quando o país praticamente liquidou uma inflação que, projetada, atingiria 23.000% ao ano. Adotou uma política de abertura e retirada do Estado da economia que se repetiu na Argentina, México e Brasil.
Sua política econômica foi mantida por Paz Zamora de 1989 a 93 e concluída por Lozada, dessa vez na Presidência, quando foram privatizadas estatais de petróleo, transportes e energia. Também foram alteradas as regras para a aposentadoria, privilegiando a chamada "capitalização individual".
Culpados pela crise
Hoje, Lozada e seu partido são apontados como responsáveis pela crise social que o país vive. É atacado tanto por Banzer, que prega uma "economia social de mercado", quanto por Zamora.
A ADN de Banzer deu suporte ao governo Estenssoro, pelo chamado "Pacto pela Democracia". De 1989 a 93, apoiou Zamora, fiando a estabilidade política e econômica.
Além das mudanças na área econômica, a Bolívia fez mudanças no sistema político. Os mandatos serão de cinco anos (eram de quatro). Outra novidade é o voto distrital misto: 68 dos 130 deputados serão eleitos por distritos. Os demais 62, pelo proporcional.

Colaborou HAROLDO CERAVOLO SEREZA, da Redação

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