São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Para ex-prefeita, acusações 'arranham' imagem do PT

SHEILA FARIA
EDITORA-ASSISTENTE DA FOLHA VALE

Angela Guadagnin (PT), 49, ex-prefeita de São José dos Campos (97 km a nordeste de São Paulo), diz que seu partido vai ter dificuldade para recuperar sua imagem de "imunidade à corrupção" após as acusações feitas por seu ex-secretário da Fazenda Paulo de Tarso Venceslau.
Venceslau acusa a existência de um esquema de favorecimento à Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios) em administrações petistas (entre as quais, a de Guadagnin) e diz que dinheiro repassado por prefeituras à empresa financiou atividades do partido.
Segundo ela, o PT vai provar que a denúncia é infundada, mas sai "arranhado" do episódio. Ela depõe à sindicância aberta pelo PT para apurar o caso no dia 7 -mesmo dia em Venceslau deve depor.
Angela nega favorecimento à Cpem e diz que rompeu o contrato com a empresa, feito na administração anterior, do PTB.
*
Folha - A sra. demitiu o ex-secretário Paulo de Tarso Venceslau por pressão de lideranças do PT?
Angela - A denúncia dele repica coisas já faladas anteriormente, cuja falta de fundamento já foi comprovada. O destaque é dado por conta do momento político -Paulo Maluf e Celso Pitta (PPB), envolvidos no escândalo dos precatórios e a suspeita de compra de votos no governo FHC. Para desviar a atenção, essa denúncia caiu em um momento fértil.
Folha - Na sua análise, as denúncias tentam atingir Lula?
Angela - Atingir o PT.
Folha - A sra. acha que o objetivo foi atingido?
Angela - (Há) um repique de acusações, a cada hora uma denúncia diferente. Dificilmente será recuperada a imagem que o PT possuía.
Folha - A crise arranhou a imagem que o PT tentou fixar, de um partido imune à corrupção?
Angela - Tenho certeza de que nós administramos com moralidade o dinheiro público. Em todos os escândalos nacionais, como o do Collor e o da CPI do Orçamento, nunca foi conseguido ligar o PT. A partir do momento em que demonstrarmos que as denúncias são infundadas, a credibilidade do PT vai ser muito grande.
Folha - Como a sra. analisa sua convocação para depor à comissão de sindicância do partido?
Angela - Vou depor com muita tranquilidade e mostrar como foi o nosso comportamento em relação à Cpem, exatamente para que o PT tenha condições de apurar tudo. O Paulo de Tarso baseia toda a sua denúncia nas irregularidades nas Dipam (Declaração de Participação dos Municípios) levantadas pela equipe técnica da prefeitura. Coisas ocorridas basicamente antes do meu governo. Ele não tem documento nenhum para provar o que diz.
Folha - A sra. conversou com o Lula nos últimos dias?
Angela - Eu liguei para ele em solidariedade. Disse que estava à disposição para o que fosse necessário. O afastamento dele da direção mostra a seriedade do PT na apuração desse episódio.
Depois de apurado tudo, vamos definir o que fazer em relação aos jornais e ao Paulo de Tarso.
Folha - Qual o prazo para a conclusão desse trabalho?
Angela - A comissão quer tentar concluir tudo em 15 dias. O problema é que já estamos saindo atrasados, porque o Paulo de Tarso, que deveria depor na última sexta-feira, não apareceu e foi convocado novamente para o dia 7.
Pela segunda vez, ele denuncia e não aparece para falar, como fez em 95, quando faltou à reunião que discutiria o caso, na primeira tentativa de apurar a denúncia.
Folha - Como foram suas explicações sobre as acusações de Venceslau em 95?
Angela - Fui ouvida pela Executiva Nacional. Mostrei toda a documentação ao PT sobre o rompimento do contrato com a Cpem, que foi uma decisão de governo. A afirmação do Paulo de Tarso, de que foi demitido por pressão do PT, sempre foi infundada.
Folha - Qual foi o motivo da saída de Venceslau?
Angela - Ele sempre teve um comportamento difícil em relação à minha pessoa e aos demais secretários. Além disso, passava informações incorretas à equipe.
Dizia para mim alguns números e, em reuniões com o secretariado, na hora de tomar decisões com base nesses dados, apresentava outros. Agora, ele não pode aceitar isso, tem que culpar alguém.
Folha - Na época em que o ex-secretário foi demitido, o então presidente estadual do PT, Paulo Okamoto, procurou a sra. para conversar sobre o contrato?
Angela - Ele nunca discutiu contrato nenhum. A direção nacional apenas me perguntou o que estava acontecendo, a partir do momento em que o Paulo de Tarso fez a denúncia de irregularidades.
Respondemos que era um contrato da administração anterior, pago pela administração anterior, e cujo pagamento do restante, os R$ 5 milhões, estava sendo questionado pela prefeitura. O caso acabou aí.
Folha - A sra. teve contatos com o advogado Roberto Teixeira ou seu irmão, Dirceu Teixeira, que era ligado à Cpem?
Angela - Nunca tive reunião com eles. Não os conheço.
Folha - Como a sra. explica a manutenção do contrato com a empresa Siadem, que tem sócios comuns com a Cpem?
Angela - Quando assumimos a Prefeitura de São José dos Campos, havia uma quantidade enorme de contratos em andamento e muitas dívidas. Apuramos a origem dessas dívidas. Tudo o que estava certo, pagamos. O que estava errado, rompemos. O contrato com a Cpem é totalmente diferente do da Siadem, que estava correto. A Siadem prestava serviço de informática à Secretaria da Fazenda.
Temos um parecer do então secretário Paulo de Tarso Venceslau dizendo que, se houvesse uma quebra no contrato com a Siadem, a secretaria ficaria com dificuldade de trabalhar. Ele recomendava que o contrato fosse mantido, ao contrário do que diz agora.
Folha - A sra. sabia que a Siadem era do mesmo grupo da Cpem?
Angela - Não.
Folha - E conhecia a mudança da razão social da empresa, de Cpem Informática para Siadem?
Angela - No início da minha administração, a prefeitura tinha um contrato com Siadem Informática. Tive informação dessa mudança pela Folha.
Folha - Venceslau afirma ter recomendado o rompimento do contrato com a Siadem, alegando que a empresa passava informações reservadas à Cpem.
Angela - Isso não tem sentido. Não sei como a Cpem teria sido beneficiada, já que a administração do PT não lhe pagou nada.

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