São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Negro no Brasil vive como no Zimbábue

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A qualidade de vida dos negros no Brasil se equipara à dos moradores do Zimbábue e do Lesoto, dois dos países mais pobres da África.
É o que indica estudo inédito obtido pela Folha sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da população negra ou de origem negra no Brasil.
Enquanto a média da população brasileira, negros e brancos juntos, fica em 63º lugar em qualidade de vida no mundo, os negros e seus descendentes isoladamente ocupariam a 120ª posição.
Estaríamos no bloco das Ilhas Vanuatu, na Oceania (119º), Lesoto, na África (120º), e Zimbábue (121º) -países considerados pela ONU como de baixo desenvolvimento humano.
A 63ª colocação do Brasil como um todo o coloca entre os países de médio desenvolvimento humano. O ranking da ONU é encabeçado pelo Canadá, a Suíça e o Japão. Guiné, também na África, é o país com a pior qualidade de vida.
Os autores, a historiadora Wânia Sant'Anna e o economista e professor universitário Marcelo Paixão, são negros e pesquisadores da Fase (Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional).
Esse índice é utilizado pela ONU para medir o grau de desenvolvimento dos países a partir de três variáveis: esperança de vida, situação educacional e nível de rendimento dos habitantes.
Na comparação entre os indicadores do total da população brasileira e os referentes à população negra, a maior diferença constatada foi na variável educação.
Segundo os dados do Relatório de Desenvolvimento Humano no Brasil, de 96, 35,2% dos negros e 33,6% dos pardos são analfabetos, contra 15% dos brancos. Apenas 18% dos negros e 26% dos pardos com 2º grau têm probabilidade de entrar em uma universidade. Entre brancos com 2º grau completo, a probabilidade sobe para 43%.
A expectativa de vida para o total da população brasileira é de 65 anos. Entre a população negra ou de origem negra, a expectativa de vida cai para 59 anos.
Os autores do estudo preferem o termo "afro-descendente". "É uma forma de englobar os dois grupos, dando uma identidade comum a partir das origens", diz o economista Marcelo Paixão, 31, professor de economia política na Universidade Federal Fluminense.
No cálculo de rendimento, os autores fizeram duas projeções. Uma otimista, atribuindo à população negra a média do rendimento nacional, e outra pessimista, com a menor diferença salarial entre brancos e negros, de mulheres.
Com o cálculo otimista, o IDH da população de origem melhora um pouco: sobe para 119º.

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