São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Vitória pequena para o milionário Corinthians

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A cena estava armada para a festa alvinegra: na galera, a Fiel, no campo, um Palmeiras remendadíssimo e um Corinthians cintilante, mesmo sem sua principal estrela -Marcelinho.
Bola rolando, sinais claros de goleada. Mais claros ainda depois da expulsão de Wágner.
Mas, logo, sobreveio a eliminação de Silvinho, fruto da soberba corintiana, que se mandou inteiro ao ataque, e eis o revertério, com o Palmeiras assumindo o controle.
Até que Henrique, sempre ele, surgisse entre Velloso e Rincón para dar um ponto final ao primeiro tempo: Corinthians, 1 a 0.
No comecinho do segundo, um toque de calcanhar de Donizete, o cruzamento de André e o gol de Mirandinha que decretou o fim de um ciclo no Palmeiras e do interesse pela partida, que agonizou até o apito final.
Suficiente, mas pouco para esse milionário Corinthians.
*
Tempos atrás, quando Dario Pereyra ainda era um dos mais elegantes e eficientes craques do futebol mundial, colhi sua opinião sobre esse fenômeno que era o futebol uruguaio, tão chiquitito e cumplidor.
Dario, com aquele ar de eterno adolescente, sentenciava: era exatamente por ser tão pequeno, acuado lá nos fundões do continente por dois gigantes, como Brasil e Argentina, que os uruguaios afiavam sua garra na defensiva. Uma defesa, fria, consciente, animada pela certeza interior que, na primeira chance oferecida, eles dobrariam os gigantes.
Guardadas as devidas proporções, foi esse espírito uruguaio -que suspeito só restar hoje em dia na memória de Dario- que o tricolor incorporou no jogo de sábado, para vencer o Santos por 1 a 0, gol de pênalti marcado por Dodô.
Mesmo porque o São Paulo foi exclusivamente defesa, ao longo de toda a partida, mesmo jogando, desde o primeiro tempo, com um jogador a mais e sob o impulso da torcida que praticamente lotou o Pacaembu. Um pênalti, aliás, que provocou polêmica, embora o replay deixe claro que o Marcus Assunção atingiu o pé de Dodô -ainda que sem contundência- em vez da bola.
Assim como reclamam os santistas -com razão- de o juiz alemão não ter expulsado Cláudio, reincidente ao infinito em faltas desclassificatórias.
O fato é que, se o Santos voltou a exibir-se bem, taticamente, dominando o jogo mesmo em desvantagem numérica, o tricolor não foi nem sombra daquele time ágil, imaginativo e agudo que goleou o Palmeiras ainda outro dia. E por quê?
Pode-se dizer que por causa do tal espírito uruguaio, que joga friamente pelo resultado (o empate lhe era conveniente). Mas quem tiver olhos pra ver verá que foi a ausência de Denílson a verdadeira e única razão.
Sem ele, o São Paulo é um time sem imaginação, engenho e brilho. Quer queiram ou não.
*
Fico sabendo pelo Wanderley Nogueira, da Pan, que o Brasil está lá na França, flanando: uns dez minutos de tísica física completados por um coletivo de 25 minutos.
Assim, Zagallo não vai acertar esse vulnerável sistema defensivo nem daqui a cem anos.

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