São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Fãs ficam cara a cara com Sepultura

A entrevista coletiva dos leitores com o Sepultura, no sábado à tarde dia 24, no auditório da Folha, foi um sucesso. Durante uma hora e meia, Igor Cavallera (baterista), Andreas (guitarrista e provável futuro vocalista) e Paulo (baixista) responderam a perguntas sobre os mais diferentes assuntos. Leia abaixo os melhores trechos da entrevista.
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Folha - Como está o trabalho da banda sem o Max?
Andreas - Estamos ensaiando. A gente já tem umas seis músicas rolando, várias letras escritas, e eu estou tentando colocar vocal em alguma coisa, mas ainda está bem na fase de teste, de experimento.
Adailton da Silva, 33 - Sei que vocês são amigos do Metallica, e eles, em vários trabalhos, colocam sempre uma balada. Há interesse também de fazer uma balada para incluir no trabalho de vocês?
Andreas - Não tem interesse nenhum em balada. Nem cantar bonitinho nem nada.
Paulo - Balada, só no boteco, malandro!
Daniel Mota Carvalho, 16 - Vocês têm medo de que aconteça com o Sepultura o que aconteceu com o Sabbath com a saída do Ozzy, a carreira do Max decolar e de a banda ir para o saco?
Paulo - Eu espero que o Max vá pro saco, e não a gente.
Clarissa Velasco, 17 - A marca do Sepultura é colocar elementos diferentes no som. No "Roots", há influências indígenas. O que podemos esperar de novo na banda?
Andreas - Vai continuar do mesmo jeito. É o mesmo espírito. Não importa qual influência e qual técnica nós vamos usar no disco novo, mas copiar o "Roots" ou qualquer outro álbum do Sepultura nós não vamos. A gente está com idéias de continuar procurando instrumentos diferentes, mas sem perder o peso e a agressividade, que são a nossa característica.
Caio Vinícius D'Angelo, 14 - Andreas, sou baterista de uma banda, o nome dela é Claustrofobia. A gente já mandou a fita pra você... Andreas - É lá de Santo André?
Caio - É, do seu amigo Sujeira.
Andreas - Classe A. Pô, você toca pra caralho, bicho.
Caio - Então, a banda já tem uns dois anos, só que a gente não consegue patrocínio. Queria saber sua opinião.
Andreas - Quando a gente vier tocar no Brasil, a gente pode botar bandas como a sua para abrir shows. Acho que há uma boa chance de a gente fazer alguma coisa no futuro juntos.
Lígia Maria da Silva, 16 - Vocês mandaram a mulher do Max embora só porque as mulheres de vocês sentiam ciúmes dela? Nenhum jornal falou a verdade até agora.
Igor - Isso acabou ficando distorcido mesmo porque o Max não teve colhão pra falar que a gente despediu a mulher dele e que esse foi o motivo principal de ele ter saído. Então, ele começou a achar um monte de coisa no ar para falar que as coisas estavam erradas há muito tempo. Não houve ciúme.
Folha - Quem vai ser empresária ou empresário agora?
Andreas - Nós estamos em contato com três empresários. A gente está bem cauteloso pra escolher porque é muito importante ter um empresário que represente a banda e não só uma parte dela.
Juliana - Qual seria a possibilidade de o Max voltar para a banda?
Igor - Zero em um milhão.
Fabiana Maria Guimarães - Como a sua mãe reagiu à separação?
Igor - Ela está bastante chateada com a situação, mas ela entende. Eu expliquei que, quando você briga em casa e sai de casa, às vezes, acaba melhorando o relacionamento que tem com os pais. Acho que aconteceu uma coisa desse tipo entre mim e o Max. No futuro, o nosso relacionamento como irmãos pode melhorar.
Rafael, 17 - Sou baterista, li na "Modern Drum" que você não gostava muito de solo de bateria. Você acha que a parte técnica não influencia muito?
Igor - Influencia. Acho que técnica é o que você faz com o coração. Não me chama a atenção o cara que faz um milhão de coisinhas na música para ficar aquele carnaval. Muita gente gosta do cara fazendo aquela virtuose. Isso pra mim é babaquice.
Fábio Leite - Que baterista influenciou você?
Igor - No início, acho que o baterista do Exciter. Hoje em dia, os bateristas de que eu gosto vão de Niel Part, do Rush, até David Lombard, do Slayer.
Alexandre - Que papo é esse do Axl chamar você pra tocar no Guns'n'Roses?
Igor - É uma coisa que está fora de cogitação, mas achei do caralho o cara ter lembrado de mim, de o som que eu faço ter chegado ao ouvido dele.
Folha - Vocês vão participar de um filme. Falem um pouco sobre esse novo trabalho.
Andreas - O filme se chama "No Coração dos Deuses" e é sobre bandeirantes, com direção de Geraldo Moraes. O Igor e eu fomos convidados para fazer umas partes percussivas e pesadas e também umas partes de violão. Não sei ainda a data do lançamento.
Cristiano de Melo, 20 - Sabe essa tatuagem sua que parece um 666? Rola algum lance de satã no Sepultura?
Igor - O 666 é um símbolo japonês que tem várias representações, mas uma delas é a de simbolizar o trovão. Eles pintavam isso anos atrás nas baterias pra dar força. O Sepultura não tem nada a ver com o capeta. Desde o início, a gente ataca a igreja, o lance de rolar grana... Mas sempre acreditamos em Deus, mas não naquele Deus pra quem você precisa dar uma graninha, mas aquele que está aqui dentro com a gente.
João Paulo Trevisan, 17 - O Max falou em uma reportagem que ama vocês como irmãos e que se fosse voltar a tocar com vocês ia ser por amizade. Vocês três têm o mesmo sentimento por ele?
Andreas - É difícil receber uma mensagem dessa pela imprensa. Se o cara realmente se considera irmão, ele resolve isso falando cara a cara. Foi muito difícil perder o Max, depois de quase 14 anos tocando juntos. Mas o Max precisa arrumar o equilíbrio na vida pessoal. Se ele quiser voltar ou se a gente sentir, sei lá, daqui a uns 25 anos, de repente. Mas, para voltar, vai ser preciso muita conversa cara a cara. Não pela imprensa ou por mensageiros.
Lucas Roberto de Sá, 36 - Vocês não fazem música pra minha geração. Estou aqui acompanhando o meu filho de 13 anos. Quero expressar a minha admiração, talvez não pela música, mas pelo profissionalismo de vocês. A sobrevivência da banda dependerá disso.
Andreas - Obrigado, valeu, perfeito.

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