São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997 |
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Daniel Binelli rende-se ao mito Piazzolla
JOÃO BATISTA NATALI
Binelli tem seu nome estreitamente associado à revolução harmônica que Piazzolla promoveu no tango. Participou de conjuntos como o Quinteto Guardia Nueva, o Quinteto Hugo Garalis ou o Sexteto Quelos Palacios. Em 1989, esteve no Brasil com o New Tango Sextet, fundado e dirigido pelo próprio Piazzolla. A sinfonização do tango ocorre paralelamente à descoberta de Piazzolla por músicos clássicos como Guidon Kremmer, Emanuel Aix ou Daniel Barenboim. Eis os principais trechos da entrevista de Binelli à Folha: * Folha - Ocorreu uma mudança na percepção musical dos ouvintes, que há cerca de 20 anos estranhavam a sonoridade de Piazzolla? Daniel Binelli - Há neste final de século uma clara evolução na capacidade de escuta do tango, com harmonias que antes eram "estranhas" e hoje não são mais. A música de Piazzolla está popularizada mundialmente. Folha - No século 21, que idéia as pessoas farão do tango: a do inovador Piazzolla ou a do mais tradicional Osvaldo Pugliese? Binelli - O tango continuará a existir enquanto os intérpretes puderem incorporar dentro de si mesmos toda a história deste ritmo e revertê-la de uma maneira claramente modernista, com sons e uma forma musical renovada. Folha - Carlos Gardel então se tornaria um objeto de museu? Binelli - Não, obviamente que não. Há algo fundamental: o tango é antes de mais nada uma dança, que não pode perder o ritmo. Mudarão as melodias, a configuração formal, para que, ao se chegar à transcrição sinfônica, se possa trabalhar com formas muito mais flexíveis, muito mais abertas que aquelas praticadas quando se concebia o tango só como dança. Folha - O tango obteve sua "lettre de noblesse" sinfônica por sua sofisticação harmônica. Por que ritmos latinos como a rumba ou o bolero não foram tão longe? Binelli - Fundamentalmente porque, nesta parte da América do Sul, nós temos uma cultura mesclada com a de imigrantes europeus, que trouxeram sua influência musical. O tango possui uma evolução que a meu ver encontra paralelismo apenas com o jazz. Folha - É por isso que Piazzolla passa hoje a ser executado por intérpretes eruditos que também tomam Gershwin como um clássico? Binelli - Piazzolla em seu desenvolvimento musical sofreu influências muito semelhantes às recebidas por Gershwin. Com sua morte, novas tendências nascidas do trajeto que ele percorreu prosseguem nessa renovação musical. Folha - O sr. ainda leciona bandoleon no Conservatório de Música Popular de Avellaneda? Binelli - Fui um dos fundadores dessa instituição, mas não tenho mais conseguido lecionar em razão de uma agenda de compromissos internacionais cada vez mais intensa. Um exemplo: depois de São Paulo, sigo para a Itália e em seguida faço uma turnê de três meses pelos Estados Unidos. Folha - Piazzolla escrevia no pentagrama apenas a linha melódica; os fraseados e a cadência deveriam ser dados pelo intérprete. Isso não limitaria só a músicos argentinos a interpretação correta de suas composições? Binelli - Do ponto de vista fraseológico, é absolutamente necessário que a interpretação traga os códigos fornecidos pela cultura musical argentina. Não é um conhecimento transmitido por livros. Há uma tradição adquirida na convivência com essa música, na imersão dentro dela. Folha - Quem o sr. gosta de escutar como bandoleonista: Binelli ou Piazzolla? Binelli - Não o imito, apenas o interpreto. Ele não foi um bandoleonista entre muitos. Ele foi único. Concerto: Orquestra Experimental de Repertório (direção do maestro Jamil Maluf) Solista: Daniel Binelli (bandoleon) Programa: Piazzolla, Tchaikovski e Rimski-Korsakov Quando: sábado, às 21h, e domingo às 17h Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº), tel. (011) 222-8698 Ingressos: R$ 2 a R$ 8 Texto Anterior: Brasileiros vendem mais Próximo Texto: Maluf toca Nino Rota Índice |
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