São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Miami assiste a inflação de brasileiros

ISABEL FLORES
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MIAMI

No próximo dia 16, Caetano Veloso tem show programado na Flórida (EUA). Essa é a primeira vez que o Estado do sul dos Estados Unidos, onde vivem, segundo estimativas do consulado brasileiro em Miami, 150 mil pessoas, faz parte da turnê internacional do cantor.
Assim como ele, outros artistas brasileiros estão conhecendo agora a Flórida e Miami. Em menos de dois anos, Djavan, Gilberto Gil, Zizi Possi, Daniela Mercury, Jorge Ben Jor, Paralamas do Sucesso, Skank, Cidade Negra, entre outros, passaram pela cidade, nem sempre tocando para grandes platéias.
As apresentações desse elenco brasileiro foram viabilizadas com o surgimento de um novo profissional na cidade, o produtor de espetáculos.
Um deles, Byron Malcon, é especializado em reggae. Curiosamente, ele começou sua carreira levando artistas sediados em Miami para o Brasil, caso do Inner Circle, que faz show regulares no Brasil -o último, em São Paulo, foi em maio.
Ele hoje é um importante produtor de espetáculos de música brasileira em Miami. Já agenciou grupos como o Cidade Negra e Skank. "Não há a menor dúvida de que Miami dá resultado, principalmente pela quantidade de brasileiros que vivem nesta área. Fica ainda mais fácil quando se trata de reggae", disse à Folha.
O otimismo de Malcon não é compartilhado por outros produtores. Segundo o jornalista e produtor Carlos Borges, é difícil saber se um evento será bem-sucedido.
Ele promoveu duas noites de Zizi Possi em Miami. Reuniu ao todo 370 pessoas, público que seria aceitável para uma única apresentação. Com Guilherme Arantes, deu-se melhor: 1.200 pessoas foram assistir ao cantor paulista.
Maria do Carmo Fulfaro, da Luqui, vê no interesse do músico brasileiro em tocar em Miami um desejo de projeção internacional. "O artista sempre espera reconhecimento internacional, e tanto melhor se esse reconhecimento vier do público norte-americano", diz ela, que promoveu espetáculos de Jorge Ben Jor, Chitãozinho e Xororó e Toquinho, em Miami.
Na opinião da produtora Eny Sampaio, que só no ano passado trouxe artistas como os mineiros Beto Guedes, 14 Bis e o grupo de pagode paulista Raça Negra, shows de cantores sertanejos -um filão de sucesso no Brasil- não funcionam em Miami.
"Eu promovi em agosto de 96 o show de Roberta Miranda, que é uma excelente bilheteria no Brasil, e foi o menor público que já tive -só 100 pessoas", conta ele.
A reclamação da produtora Márcia Olival, que já agenciou Gilberto Gil, Djavan e Paralamas do Sucesso, o que falta mesmo é apoio das gravadoras. "Não há distribuição na cidade dos álbuns dos artistas brasileiros. Não há mídia especializada para o público latino", opina Olival.
Curiosamente, quase todas as grandes gravadoras fazem de Miami o escritório central de seus interesses na América Latina.
Alexandre Ktenas, diretor de marketing de América Latina da gravadora Polygram, diz que o mercado hispânico tem importância extremamente considerável.
"Nos EUA vivem quase 30 milhões de latinos. Como você acha que 'Macarena' furou o bloqueio e entrou com tanta força no mercado americano?"
Ktenas destaca a penetração do grupo baiano É o Tchan, que teve grande vendagem em Miami.
"É importante ressaltar a dedicação da banda, que, no começo do trabalho de divulgação em Miami, sacrificou faturamento certo no Brasil. A banda só visitou Miami em busca de promoção do disco, deixando de fazer shows no Brasil", diz Ktenas.
O esforço repercutiu nas lojas, onde uma compilação de música baiana ficou entre os dez discos mais vendidos de música latina durante dois meses consecutivos este ano.
Escola de samba
Se depender do cônsul do Brasil em Miami, Luiz Fernando Benedini, grupos como É o Tchan não entram na relação de seus artistas prioritários.
Ele procura promover eventos com o que chama de "Brasil que não é escola de samba".
"Nós temos que valorizar a nossa cultura e mostrar o nosso talento nas artes", diz Benedini.
Ele cita como exemplo de seu princípio o concerto que promoveu do pianista Nelson Freire e do maestro Roberto Tibiriçá.

Texto Anterior: Terra Sem Lei
Próximo Texto: Paulinho Moska lança 'Contrasenso'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.