São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Mitterrand inaugurou a coabitação

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A história política francesa registra 13 oportunidades em que o chefe de Estado e o chefe de governo pertenceram a grupos políticos opostos. Está para iniciar uma nova experiência do gênero.
Antes da Quinta República (1958), no entanto, havia um grande desequilíbrio de atribuições. O monarquista Mac-Mahon tinha poderes simbólicos ao governar com maioria parlamentar republicana (1877-1879).
O mesmo vale para Albert Lebrun, presidente durante o governo da Frente Popular (socialista) de Léon Blum (1936-1937).
Foi o presidente François Mitterrand quem precisou engolir a coabitação em seu formato mais conflitante e recente. As esquerdas perderam as legislativas de julho de 1986. O governo foi então chefiado, por dois anos, por Jacques Chirac.
Ele privatizou o que os socialistas haviam estatizado desde 1981. Mitterrand não tinha poderes constitucionais para se opor.
Mas, em política interna, manifestou uma dezena de vezes "reservas" ou "extrema preocupação" com medidas adotadas pelo governo, como a expulsão de 101 africanos do Mali, o cerceamento do direito de greve no serviço público ou a idéia de privatizar o sistema carcerário.
O então presidente chegou a interpelar o Conselho Constitucional sobre a legalidade de medidas -a seu ver liberticidas- que o governo adotara para neutralizar o Ação Direta, grupo terrorista de inspiração neofascista.
O relacionamento pessoal entre Mitterrand e Chirac foi dos mais civilizados, mesmo quando ambos se candidataram, em 1988, à Presidência da República.
A segunda coabitação (1993-1995) colocou Mitterrand frente a um outro neogaullista, Edouard Balladur. O governo se esmerou em apurar denúncias de corrupção contra aliados do presidente, como o ex-ministro Bernard Tapie.
Mitterrand teve plenos poderes para "radicalizar" o processo de integração entre os Estados da União Européia. Balladur o poupou pessoalmente. O presidente, com câncer, morreria em janeiro de 1996, sete meses depois de transmitir o poder a Chirac.
(JBN)

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