São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Derrota expõe erro político de Chirac

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Jacques Chirac, 65, é o grande derrotado das eleições.
Dissolveu a Assembléia Nacional dez meses antes do término do mandato dos deputados. Queria, com isso, fortalecer politicamente seu bloco para a adoção de reformas que diminuíssem o déficit público e permitissem que a França adotasse, já em 1999, o euro -moeda unificada européia. Agora, Chirac vai dividir o poder com um governo de esquerda, certamente mais resistente à aceleração do desmonte do Estado previdenciário.
Ao anunciar a dissolução da Assembléia, a 21 de abril, o presidente francês obviamente esperava um outro resultado. Um mês antes, o instituto BVA publicava no semanário "Paris-Match" pesquisa que dava neogaullistas e neoliberais na dianteira eleitoral.
O diagnóstico do governo, na época, era de que a esquerda não havia recuperado seu fôlego anterior. Não agira de forma coordenada em dois episódios politicamente cruciais do início de 1997.
O primeiro deles foi a eleição municipal na cidade de Vitrolles, vencida em fevereiro pela extrema-direita (Frente Nacional).
O segundo foi, no mesmo mês, a discussão da Lei dos Imigrantes. Foram ONGs, artistas e intelectuais -e não o PS- que lideraram o protesto contra as medidas (como a delação compulsória da imigração clandestina), previstas no projeto do ministro do Interior, Jean-Louis Debré.
Pelo calendário eleitoral, a nova Assembléia deveria ser eleita em março de 1998. Antes disso, os deputados deveriam votar o novo Orçamento. De olho nas urnas, até o bloco governista hesitaria em cortar gastos previdenciários.
Segundo o jornal "Le Monde", a decisão de dissolução e convocação de legislativas antecipadas foi pela primeira vez discutida, há quatro meses, entre Chirac e François Léotard, presidente da UDF (neoliberais). Alain Juppé, o primeiro-ministro, aprovou a idéia.
Chirac passa a soltar balões de ensaio. Troca confidências com René Monory, presidente do Senado. Desmente publicamente um roteiro que costura nos bastidores.
Claude Chirac, filha e assessora de marketing do presidente, elabora o roteiro para que a dissolução seja anunciada. Quer evitar uma inútil "tempestade".
O último a saber do plano foi o chanceler (premiê) alemão, Helmut Kohl, com quem Chirac jantou, em Bonn, em 9 de abril. Ambos concordaram que a adoção do euro constituía uma "oportunidade histórica" para que os dois países neutralizassem os adversários internos do equilíbrio fiscal.

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