São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Vitória da esquerda pode mudar cronograma da moeda única

MARTA AVANCINI
DE PARIS

A ascensão da esquerda na França pode complicar o processo de unificação monetária e econômica da Europa.
A revisão do Tratado de Maastricht foi um dos pilares do discurso da esquerda durante a campanha eleitoral.
O tratado foi assinado em 1991 pelos países-membros da União Européia. Ele define os critérios de participação na integração econômica e monetária da Europa, cujo primeiro passo é a entrada em circulação da moeda única, o euro, em 1999.
Os socialistas defendem a revisão do tratado em nome do que chamam de "Europa social". Eles não querem que a unificação se dê com base na implantação de políticas liberais, que consideram responsáveis pelo aumento do desemprego e pela crise social.
Analistas econômicos consideram que a vitória da esquerda na França, combinada com a crise política criada por problemas orçamentários na Alemanha, apontam para a necessidade de mudanças no programa de adoção da moeda única na Europa.
Outra reivindicação socialista é a participação da Itália e da Espanha na primeira fase da unificação monetária. Ela se baseia no fato de que os dois países foram signatários de Maastricht e que eles são importantes para o equilíbrio econômico da União Européia.
Com o aval das urnas, a esquerda deve ter poder para pressionar o presidente Chirac a modificar a atual postura frente à implantação da moeda única européia.
Chirac defende o respeito das condições estabelecidas em Maastricht e a manutenção do calendário da unificação.
Pelo tratado, há três metas para os países participarem da unificação européia: déficit público de no máximo 3%, dívida pública de até 60% do PIB (Produto Interno Bruto) e inflação máxima de 1,5 ponto acima da média dos três países com melhor desempenho (menor inflação).
Para a esquerda, esses critérios são flexíveis, passíveis de discussão e vêm tendo uma utilização política, de modo a beneficiar alguns países-membros em detrimento de outros.
Essas metas têm de ser cumpridas até o final de 97, pois o desempenho dos países-membros deste ano será a base para a seleção dos participantes da primeira fase da unificação monetária. A escolha será feita entre abril e maio de 98.
O déficit público da França é de cerca de 4,2%, e o país enfrenta dificuldade para cortar os gastos públicos -uma condição para se adequar a Maastricht.
A Alemanha, outro país da linha de frente na União Européia, também enfrenta dificuldade para se adequar às metas, e suas lideranças dão declarações contraditórias sobre a manutenção do calendário europeu. O desemprego está em alta (em torno de 11%), e o déficit público deve ficar em 3,3% em 97.
O governo alemão enfrenta uma disputa com dirigentes do Bundesbank (o banco central alemão) sobre a adoção de medidas rígidas para solucionar o déficit fiscal.
Alguns especialistas apontam que a vitória da esquerda na França deve provocar uma intensificação das discussões na Alemanha, exigindo uma reavaliação da política econômica voltada para a adoção do euro.
(MA)

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