São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Esquerda vence com folga na França; Lionel Jospin deve ser o novo premiê

MARTA AVANCINI
DE PARIS

A esquerda venceu, com ampla maioria, as eleições legislativas da França, no segundo turno de ontem. Faltando os resultados de apenas 10 distritos, socialistas, comunistas, ambientalistas e outros esquerdistas haviam eleito 313 deputados, de um total de 577 que compõem a Assembléia Nacional.
A direita, liderada pela coalizão Reunião pela República e União pela Democracia Francesa, tinha 253 deputados -na legislatura anterior, eram 464. A Frente Nacional (extrema direita) elegeu um.
A abstenção caiu em relação ao primeiro turno, que ocorreu domingo passado, e foi de 28,8%.
Com o resultado, o líder socialista Lionel Jospin deve ser indicado para o cargo de primeiro-ministro, forçando o presidente Jacques Chirac à coabitação -expressão que define a existência de um premiê de partido oposto ao do presidente.
A hipótese era considerada inconcebível há 41 dias, quando Chirac dissolveu a Assembléia e antecipou em dez meses o pleito, previsto para março de 98.
A vitória da esquerda se tornou provável depois do desempenho desastroso do governo no primeiro turno, e que culminou com a renúncia do premiê Alain Juppé.
Europa
A vitória da esquerda é, no entanto, apenas o começo de um processo em que ela terá de mostrar que é capaz de resolver os problemas econômicos e sociais que atingem o país, principal motivo da derrota do governo.
No plano interno, Jospin tem por missões conter o desemprego, reduzir impostos e o déficit dos programas sociais. No plano externo, a ascensão da esquerda pode significar a rediscussão da participação da França no processo de unificação econômica européia.
"A escolha dos franceses é uma exigência por uma política econômica e social que enfatize o homem", disse Jospin em seu pronunciamento após a divulgação dos primeiros resultados.
Ele afirmou que os franceses desejam uma revisão das condições da passagem para a moeda única européia, prevista para 99. Cortes na área social feitos para atingir os critérios de adoção do euro e aumento no desemprego são dois dos motivos apontados para a derrota da direita.
Juppé desejou, em seu discurso, boa sorte ao novos chefes do governo francês. Ele entrega hoje formalmente a sua renúncia -faria isso mesmo que a direita tivesse conseguido reverter a desvantagem do primeiro turno e continuasse chefiando o governo.
Coalizão
Pelo resultado parcial, o Partido Socialista, mesmo com apoio das sete cadeiras ambientalistas e dos outros pequenos partidos de esquerda, ainda dependia do apoio dos comunistas para ter a maioria absoluta da Assembléia Nacional (289 cadeiras).
O secretário-geral do Partido Comunista, Robert Hue, declarou ontem que quer participar da "implantação das propostas da esquerda". Na campanha, ele disse ser a favor de um referendo sobre a implantação do euro.
A Frente Nacional também saiu vitoriosa do pleito de ontem. O partido de extrema direita confirmou sua posição de terceira força política da França e conquistou uma vaga na Assembléia.

LEIA MAIS sobre a eleição na França às págs. 13 e 14

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