São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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INCÓGNITAS DO PT

O escândalo envolvendo prefeituras petistas e parte da própria cúpula do partido coloca a agremiação numa situação extremamente delicada. Durante anos, foi a figura de Lula que possibilitou -de alguma maneira, pelo seu carisma e liderança histórica- acomodar e equilibrar as tensões entre as várias correntes do PT, tanto à esquerda quanto à direita.
Colocado agora no cerne das denúncias, Lula renunciou ao último cargo oficial que ainda ocupava no PT, o de membro do diretório nacional. Como a política tem horror ao vácuo, a pergunta que fica é o que deve acontecer não só dentro do partido, mas também nos próprios movimentos de esquerda.
Em primeiro lugar, o enfraquecimento de Lula e sua corrente, a "centrista" Articulação, abre espaço para alas dos extremos do espectro político da legenda. Mesmo que a "esquerda" venha a ganhar espaço, as chances de sucesso eleitoral parecem mais restritas à "direita" -a candidatura de Tarso Genro à Presidência da República em 1998 deve sair fortalecida. A presença efetiva do PT na política institucional tenderia, então, a se deslocar para o centro; ganhariam os defensores da "economia social de mercado".
Nessa dança de cadeiras ideológica, ficaria vago o posto dos radicais -ou, pelo menos, o dos "movimentos populares de base"-, o qual o PT de qualquer modo já vinha abandonando em favor do pragmatismo do sucesso eleitoral. Fica mais folgado o espaço para o que se pode chamar de oposição não-institucionalizada, hoje estridentemente representada pelo MST.
Outro ponto importante a considerar é o espaço que o PT ocupava no universo partidário brasileiro. A estampa do PT era a de um partido diferente, ético. Com a deterioração dessa imagem, o partido pode acabar caindo na vala comum das agremiações que colocam seus próprios interesses ou de seus integrantes à frente de considerações mais ideológicas. Sem esse diferencial, o PT corre o risco de ver sua representação diminuída em favor de outras legendas.

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