São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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DIALÉTICA CHINESA

Daqui a um mês, em 1º de julho, Hong Kong passará ao controle da China. É um evento de notável dimensão simbólica, que integra um ciclo de mudanças no cenário mundial iniciadas com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e que aos poucos vai desenhando os contornos do mundo pós-Guerra Fria.
Em termos econômicos, entretanto, o significado de Hong Kong é oposto ao da unificação alemã. Afinal, a queda do Muro teve custos e criou problemas que estão ainda em pauta, como por exemplo a perda de competitividade da indústria alemã.
Na expansão chinesa, destaca-se em primeiro plano o aumento do poderio econômico. Uma evidência dessa expectativa de ganhos é o desempenho da Bolsa de Hong Kong, que vem batendo recordes sucessivos de valorização à medida que se aproxima o 1º de julho.
Mas, apesar desse vigor econômico, as questões políticas continuam incomodando e, aliás, podem afetar decisões econômicas. Afinal, Hong Kong é hoje um dos mais importantes centros financeiros globalizados.
Mas a eficiência de um pólo financeiro é razão direta da disponibilidade de informações. Como a censura é inerente ao regime político chinês, já há quem tema pela integridade econômica de Hong Kong no futuro.
As tensões já se fazem sentir. A China tem reclamado publicamente da "falta de colaboração" dos ingleses na transição, denunciando dificuldades na transferência de propriedades e arquivos. Os ingleses insistem na definição de maiores garantias do ponto de vista das liberdades civis.
O Reino Unido exige também a manutenção de uma vigilância sobre Hong Kong após a transferência. A China defende sua unidade política, a despeito da diversidade econômica que resulta da convivência entre um sistema dito comunista e um pólo de vanguarda do capitalismo global.
Embora ninguém acredite em crise depois da transição, como ocorreu na Alemanha pós-unificação, os riscos dessa síntese de contrários desafiam a lógica e os interesses das potências ocidentais.

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