São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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Notificação pede que FHC investigue tucano

PAULO MOTA

PAULO MOTA; EMANUEL NERI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Empresa de Tasso Jereissati teria se beneficiado de irregularidade praticada pelo Banco do Nordeste

EMANUEL NERI
O Sindicato dos Bancários do Ceará notificou judicialmente o presidente Fernando Henrique Cardoso para que ele investigue operações do Banco do Nordeste que teriam beneficiado o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), e o senador Sérgio Machado, líder do PSDB no Senado.
A notificação, apresentada ontem, é encaminhada também ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, e ao presidente do BC (Banco Central), Gustavo Loyola.
Na notificação, o sindicato acusa o Banco do Nordeste de omitir um imóvel da família Machado que estava hipotecado. O imóvel entrou no patrimônio de uma fábrica de refrigerantes vendida pela família do senador a uma empresa que pertence à família de Jereissati.
O banco é presidido por Byron Queiroz, indicado para o cargo pelo PSDB do Ceará.
A operação ocorreu em março de 1995. A Poty Refrigerantes, em Natal (RN), fábrica da Coca-Cola que pertencia à família Machado, foi vendida à empresa Refrescos Cearenses e TJ Participações, da família de Jereissati.
Tanto o imóvel como uma fazenda na região de Crateús (CE), também de propriedade da família Machado, tinham entrado como hipoteca para o Banco do Nordeste devido a uma dívida de R$ 1,04 milhão contraída em março de 1993.
O motivo da dívida foi uma operação em que a Vicatex S.A. -da família do senador- comprou um lote de 8,08 bilhões de ações ordinárias da Vilejack Industrial, do mesmo grupo empresarial.
As ações foram para o controle do banco porque a Vilejack não havia pago uma outra dívida referente a um financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), em 1989.
Garantia de dívida
Para garantir a cobertura dessa dívida, a Vicatex hipotecou junto ao banco cinco imóveis. Entre eles estavam a sede da Poty Refrigerantes e a fazenda Irapuah de Cima, em Crateús, que já havia sido desapropriada por decreto de FHC, de julho de 1995.
Mas o caso teve outros desdobramentos. Em novembro de 1995, por exemplo, quando a Vicatex e o banco renegociaram a dívida, com o banco vendendo as ações da Vilejack por R$ 1,04 milhão, a hipoteca do prédio da Poty Refrigerantes foi omitida.
Nessa operação, ficou acertado que o Banco do Nordeste passaria a ter direito sobre dividendos do uso da marca Vilejack (que pertencia à Vicatex) por uma outra empresa, chamada Santana Têxtil.
Sustação
Ocorre que, menos de um ano depois, esse contrato de uso de marca foi sustado pela Justiça. Com isso, o Banco do Nordeste teve essa garantia prejudicada.
"A permuta da garantia do imóvel da Poty pelo contrato de uso da marca Vilejack foi desvantajosa para o banco porque se trocou uma garantia real por contrato sujeito aos riscos de mercado", diz Tomáz de Aquino, presidente do Sindicato dos Bancários.
Para Aquino, a renegociação da dívida entre a Vilejack e o banco também não podia ter sido feita. Na época, segundo ele, a empresa estava com falência requerida por pelo menos 11 credores.
Segundo Aquino, a retirada da hipoteca do prédio da Poty beneficiou diretamente as empresas da família Jereissati.

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