São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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CARONA NO BNDES

São no mínimo polêmicas as avaliações sobre o regime automotivo -isto é, o conjunto de benefícios de ordem fiscal, tarifária e creditícia que hoje são oferecidos às montadoras de automóveis no Brasil.
Entretanto, aprove-se ou não essa política industrial, a última decisão do BNDES parece ir além do que é razoável e mesmo legítimo em termos de privilégios a setores considerados prioritários pelo governo.
Além das vantagens já oferecidas às montadoras, o banco de fomento estatal coloca agora à disposição das multinacionais do setor uma generosa linha de crédito, com taxas de juros menores que as de outras linhas oferecidas pela instituição.
A justificativa para premiar ainda mais essa indústria, já protegida, com recursos sob responsabilidade de um órgão público é esdrúxula: por ser considerado de inserção internacional, o setor automotivo pode, diz o banco, pagar financiamentos segundo a taxa obtida a partir do custo da captação, pelo BNDES, de recursos no exterior.
Ora, se as empresas do setor são consideradas de "inserção internacional", por que não deixar então que elas captem por si mesmas recursos no mercado global?
Se a justificativa para tantas benesses federais e outras tantas oferecidas por Estados é a atração de investimentos, como explicar que o governo se antecipe e ofereça justamente os recursos que sua política industrial seria capaz de, por si mesma, trazer à economia do país?
Essa generosidade adicional pode ser uma evidência de que a proteção ao setor para atrair investimentos ainda não é suficiente, requerendo mais benesses. Ou então o banco estatal, que tem captado recursos no mercado internacional, nada mais faz senão agir como banco privado, desvirtuando sua missão de agente fomentador do desenvolvimento.
O BNDES deve explicações à sociedade sobre os critérios a partir dos quais faz essa opção por favorecer quem não precisa de mais favores.

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