São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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Universidade herda projeto do Exército

Governo nega fim militar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tecnologia do Projeto Atlântico de pesquisa nuclear, do Exército, vai ser transferida para uma universidade pública brasileira.
A mesma universidade ficará automaticamente autorizada a instalar um reator nuclear da linha gás-grafite com potência de 0,5 megawatt.
A Folha apurou que três universidades já manifestaram interesse em receber a tecnologia e instalar o reator. Duas delas são a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
As universidades estão negociando com o ministro do Exército, Zenildo de Lucena.
Em nota divulgada ontem pelos ministros do Exército e do Meio Ambiente, Zenildo de Lucena e Gustavo Krause, e em pronunciamento do porta-voz do Planalto, Sergio Amaral, o governo negou que a construção do reator tenha fins militares, conforme suspeita divulgada ontem pelo "Jornal do Brasil".
"A baixa potência planejada para o reator e a observância dos acordos internacionais firmados pelo Brasil, que o submetem a inspeções internacionais, serão a garantia de não-utilização do projeto para a produção de qualquer arma nuclear", diz a nota.
Equipamento experimental
A potência definida caracteriza o reator como um equipamento experimental, apropriado para pesquisa científica e treinamento e capacitação de recursos humanos. Serve para a fabricação de radioisótopos, para uso na medicina, agricultura e indústria, e radiação de alimentos com vista a aumentar o tempo de conservação.
A decisão de concentrar a pesquisa do Projeto Atlântico em um campus universitário foi tomada no ano passado e definida em um documento (exposição de motivos) assinado em conjunto pelos ministros Zenildo de Lucena e Ronaldo Sardenberg (Secretaria de Assuntos Estratégicos).
O documento diz claramente que o projeto do Exército passará a integrar o PDTN (Programa de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear) da SAE, "em associação com uma universidade federal a ser escolhida".
O documento deixa claro também que o Exército não vai mais montar nenhum reator no Centro Tecnológico de Guaratiba (RJ), como previsto no projeto inicial.
Campus
"O local de instalação do reator de pesquisa será um campus universitário", diz o documento.
Volnei Borges, 39, ex-chefe e hoje professor do Departamento de Engenharia Nuclear da UFRGS, disse ontem à Folha que sua universidade manifestou interesse em construir o reator no final de 95.
"A idéia é receber essa tecnologia e montar o reator para pesquisa da UFRGS e de uma série de universidades da região. As empresas da região também seriam obrigatoriamente integradas à pesquisa", disse ele.

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