São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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Collor comparece a enterro e é aclamado pela população

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi impedido de participar do enterro de frei Damião ontem, em Recife.
A informação foi passada a Collor ontem quando ele estava no aeroporto dos Guararapes, pelo ex-senador Ney Maranhão.
Segundo o frei Luiz Vieira, superior provincial da Ordem dos Capuchinhos no Nordeste, poderiam participar do enterro apenas religiosos e autoridades constituídas -a saber, o representante da Presidência da República, o vice-presidente Marco Maciel, o governador Miguel Arraes (PSB) e o prefeito Roberto Magalhães (PFL).
No final da manhã, porém, a decisão foi revogada. Segundo a Agência Folha apurou, a revogação foi conseguida pelo frei Fernando Rossi, secretário particular de frei Damião e amigo de Collor.
Ao participar do enterro, Collor reviveu cenas da campanha presidencial de 89. Ele foi agarrado, beijado, aplaudido e saudado com gritos de "Collor, Collor, Collor".
O ex-presidente reagiu, erguendo o punho direito, como nos tempos de campanha. A manifestação foi espontânea e aconteceu quando ele deixou o convento São Félix de Cantalice, onde o frade foi enterrado.
A saudação aconteceu no percurso de cerca de 200 metros entre a saída do convento e o automóvel em que ele estava. Boa parte das cerca de 200 pessoas que estavam na manifestação era formada por pobres.
"Isso dá-me forças para superar os obstáculos que tenho enfrentado", disse Collor.
Ele chegou ontem às 8h a Recife, acompanhado de sua mulher, Rosane, vindo de Miami. "O que me trouxe aqui foi frei Damião. Não vou falar de política." Frei Damião apoiou Collor na campanha eleitoral de 89.
Ontem, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, disse que, nos últimos anos de vida, frei Damião tinha sido instrumentalizado politicamente, porque já não estava mais em condições de tomar decisões.
Frei Fernando Rossi, que conviveu com frei Damião nos últimos 50 anos e intermediava os contatos políticos dele, não quis falar sobre o assunto.
No enterro, Collor chegou a tocar duas vezes no caixão e beijou uma vez o corpo do frei.
Collor tinha viagem marcada para Maceió para a noite de ontem, onde pretende ficar de 15 a 20 dias, segundo sua assessoria.
Marco Maciel, Arraes e Magalhães não foram ao enterro. Magalhães disse que ele preferia não participar, para não misturar política à religião.
Enquanto esteve no estádio do Arruda, onde foi celebrada a missa de corpo presente de frei Damião, Collor ficou na tribuna de honra e foi saudado por pelo menos 18 pessoas.

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