São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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Com falhas, conta malufista é aprovada

ROGÉRIO GENTILE
DA REPORTAGEM LOCAL

O TCM (Tribunal de Contas do Município) aprovou ontem as contas do último ano da gestão Paulo Maluf, relevando as irregularidades apontadas pela assessoria técnica da instituição.
Dois grandes erros foram indicados pelos auditores do tribunal municipal nas contas de 1996 da Prefeitura de São Paulo: a) o ex-prefeito aplicou na área da educação menos recursos do que o mínimo exigido pela legislação. A Lei Orgânica do Município determina que pelo menos 30% dos impostos devem ser investidos no ensino. Maluf aplicou apenas 26,40% e ainda incluiu gastos com segurança e saúde como se fossem "desenvolvimento do ensino"; b) Paulo Maluf não pagou a dívida de cerca de R$ 256,8 milhões, vencida no ano passado, de precatórios judiciais. A prefeitura devia R$ 269,8 milhões e pagou apenas R$ 12,9 milhões.
Os auditores, segundo informações do próprio relator do processo, conselheiro Francisco Gimenez, queriam a não-aprovação das contas de Paulo Maluf.
A rejeição das contas pelo TCM poderia provocar a inelegibilidade por oito anos do ex-prefeito (caso o parecer contrário fosse aprovado pela Câmara Municipal).
'Conclusão rigorosa'
O relator Gimenez confirmou os erros apontados pelos técnicos, mas disse que a conclusão dos auditores foi "por demais rigorosa".
Sobre a questão da educação, Gimenez disse que a não-aplicação dos recursos não é mais motivo para a rejeição das contas, devido à lei aprovada pela Câmara Municipal no mês passado.
Os vereadores aprovaram projeto que autoriza a prefeitura a compensar o dinheiro não aplicado em 1996, pagando de forma parcelada até o ano 2000, último da gestão Celso Pitta.
"Essa lei tornou impertinente agora qualquer intervenção do TCM", afirmou o conselheiro.
Sobre a questão dos precatórios, o relator disse ter aceitado os argumentos do ex-prefeito. Maluf informou ao TCM que o atraso ocorreu porque a prefeitura estava tentando viabilizar acordos para reduzir as dívidas.
"Adotar medidas como essa é, aliás, obrigação de todo gestor da coisa pública, principalmente quando o ente administrado, caso da Prefeitura de São Paulo, enfrenta dificuldades financeiras."
O voto do relator foi acompanhado pelos outros quatro conselheiros do TCM. O presidente Walter Abrahão não votou. Ele votaria apenas em caso de empate.
"As contas não deveriam ter sido aprovadas. A lei do parcelamento dos gastos da educação está em discussão na Justiça e não poderia ter sido utilizada como desculpa", afirmou o vereador José Mentor (PT).
Mentor disse também que outro motivo para a rejeição das contas é o fato de o dinheiro não utilizado para o pagamento de precatórios ter sido empregado em obras, o que é ilegal.
O parecer será enviado agora para a Câmara Municipal, que tem 60 dias para aprová-lo ou não. Como o prefeito Celso Pitta (que foi eleito com o apoio de Maluf) possui a maioria dos votos da Câmara, o parecer deverá ser aprovado tranquilamente.

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