São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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Brasil coloca US$ 3 bilhões no exterior

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

O governo brasileiro emitiu ontem no exterior US$ 3 bilhões em bônus com prazo de 30 anos -os "global bonds", conhecidos como Brasil-27 por vencerem em 2027.
Foram trocados por "global bonds" US$ 2,250 bilhões em "bradies" (papéis da dívida externa renegociada em 1994) e vendidos US$ 750 milhões em dinheiro dos novos papéis.
Gustavo Franco, diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, apontou ontem em Nova York três razões para definir a emissão como um grande sucesso.
A primeira foi o prazo de 30 anos, "um voto de confiança na economia brasileira", segundo Franco. "Alongamos o perfil da dívida externa", afirmou.
A segunda, o volume da transação. "O mínimo que aceitaríamos vender era US$ 1 bilhão, mas conseguimos o triplo", disse Franco.
A terceira, o fato de não ter aparecido nenhum credor querendo vender títulos da dívida.
"É o maior sinal de que o papel brasileiro hoje é bom. Se fosse moeda podre, todos iriam querer vender", argumentou Franco.
O Brasil pagará juros mais altos para os compradores dos novos bônus. Entretanto, segundo José Linaldo Gomes de Aguiar, chefe do Departamento da Dívida Externa do BC, a operação possibilita reduzir o principal da dívida externa antiga e possibilita a liberação de garantias.
"Cancelamos US$ 2,7 bilhões dos valores de face dos 'Brady bonds' e recuperamos US$ 670 milhões dos colaterais, que havíamos dado como garantia", explicou Gustavo Franco.
"Em outras palavras, se a dívida cresceu US$ 3 bilhões, ela caiu, concomitantemente, outros US$ 3,370 bilhões, o que dá um saldo favorável de US$ 370 milhões", afirmou Gustavo Franco.
Oferta de US$ 16 bi
Segundo o diretor do BC, a operação teve três etapas. "Começamos oferecendo a troca do bônus ao par, sem desconto, mas só apareceu US$ 1,5 milhão."
Em seguida, então, foi feita a troca de US$ 2,250 bilhões dos papéis pelos bônus de 30 anos, pagando-se 3,95 pontos percentuais de juros acima do que paga o título norte-americano.
Numa terceira etapa, foram colocados à venda bônus de 30 anos a serem comprados com dinheiro.
"Houve US$ 16 bilhões em oferta de interessados, mas havíamos determinado que só seriam vendidos bônus em dinheiro até 25% do valor de troca", disse Franco.
Como tinham sido trocados US$ 2,25 bilhões, o Brasil acabou vendendo, em dinheiro, US$ 750 milhões. No total, US$ 26 bilhões dos "Brady bonds" estavam com credores externos.
O montante que será entregue ao Brasil em dinheiro por compradores dos novos bônus será de US$ 699 milhões, porque houve um deságio (desconto) de 6,77% na colocação dos papéis, segundo o BC.
A emissão dos "global bonds" foi considerada por Franco a maior transação brasileira no mercado externo. "Não pode ser comparada ao Plano Brady, mas, em termos de transação no mercado, foi a maior que já fizemos", disse.
"Aproveitamos a oportunidade para ver o apetite do mercado para esses papéis. Parece que ele (o mercado) está morrendo de fome", disse Gomes de Aguiar.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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