São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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MITOS E MENINOS DE RUA

Às vezes, alguns mitos são repetidos tantas vezes que muitos acabam por tomá-los como verdades imutáveis. Esse é o caso dos clichês envolvendo os chamados "meninos de rua", que, no imaginário popular, não passariam de um bando de garotos totalmente abandonados, sem vínculos familiares, ou mesmo trombadinhas e viciados em drogas.
Duas recentes pesquisas desmontam esse mito infundado. Enquete do SOS Criança mostra que a maioria dos meninos de rua (em sentido amplo) tem família, dorme em casa e frequenta a escola. Outro estudo, este do Serviço Social do Fórum das Varas Especiais da Infância e Juventude da Cidade de São Paulo, revela que a maioria dos adolescentes infratores de São Paulo (72%) vive em núcleos familiares constituídos.
O mérito dessas pesquisas está em contribuir para a desmistificação da imagem dos meninos de rua e do discurso demagógico ou também estigmatizador sobre eles. É preciso aqui ter em conta que a mistificação não é um ato inconsequente, que se limite a um parlatório em rodas de amigos.
Esse mecanismo de constituição e fixação de um símbolo negativo tem pelo menos duas consequências potencialmente danosas. Em primeiro lugar, pode levar o poder público à adoção de políticas sociais erradas.
Igualmente grave é o que a criminologia chama de reforço negativo, ou seja, a criação de um estigma para o menino de rua (agora em sentido mais estrito) que, em vez de ajudá-lo a procurar o caminho da integração à sociedade, acaba por levá-lo de vez à rota da marginalidade. Ademais, tal imagem reforça um preconceito que muitas vezes redunda em violência -em chacinas de garotos de rua ou no apoio tácito da população a elas.
Fica assim claro que, antes de fazer ilações irresponsáveis acerca do que quer que seja, procurar conhecer o problema é uma necessidade, sobretudo quando se trata de matéria que reverterá em ações do Estado.

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