São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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A volta do inominável

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Devagarinho, vai voltando à agenda uma expressão (política industrial) que a hegemonia neoliberal convertera em palavra proibida.
Política industrial pressupõe algum tipo de proteção ou estímulo a um ramo industrial (ou vários), o que é anátema para os que acham que o mercado se incumbe de tudo.
Agora, até o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, diz que "é preciso parar com a frescura de não falar de política industrial". E um empresário de impecáveis credenciais liberais, Roberto Teixeira da Costa, disse quase a mesma coisa, embora com algum constrangimento, no debate sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) realizado segunda-feira no auditório da Folha.
A expressão volta a ser dita em público basicamente pela confluência de dois fatores: um é a Alca, ou seja, a perspectiva de que, a partir de 2005, a indústria brasileira tenha que enfrentar a concorrência da norte-americana aqui mesmo, no seu quintal.
A segunda é a anemia das exportações brasileiras, principal causa de um déficit comercial que é mais ou menos assustador conforme o interlocutor que se escolha.
Uma política industrial, em tese, permitiria criar ou aperfeiçoar setores dinâmicos, que poderiam tanto competir no mercado norte-americano, se e quando a Alca passar a vigorar, como aumentar o valor agregado das exportações.
O problema é que o tempo é curto demais para que tal política produza resultados de fato ponderáveis, se a Alca começar mesmo a partir de 2005.
O mais provável é que, abrindo seu mercado, a produção brasileira seja tragada pela invasão do "made in USA".
Hoje, com uma abertura ainda restrita, a Câmara Americana de Comércio já projeta para 97 um déficit com os EUA da ordem de US$ 5,7 bilhões. É mais do que o déficit com o conjunto de parceiros do planeta que o Brasil registrou no ano passado.

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