São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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O AUTOR FALA DE SUA OBRA

"'Deus cria', observou certa vez o coreógrafo George Balanchine, 'eu apenas junto as peças'. Essa sua frase me faz lembrar a sensação que eu tive quando comecei a escrever 'Um Esporte e um Passatempo' -parecia que o livro já existia, e que só o que eu tinha que fazer era arranjar um modo de passá-lo para o papel.
Minha ambição era escrever um livro que fosse capaz de seduzir a cada página, um livro que fosse franco mas audacioso, que fosse feito de imagens e obsessões imperecíveis e, acima de tudo, que contrastasse o banal com divino -por mais ilícito que isso pudesse ser.
É óbvio que não cabe a mim julgar o resultado -ele tanto pode ser o livro que pretendia escrever, quanto outro bem diferente. Relendo-o alguns anos depois, eu encontro nele algumas qualidades que me sinto tentado a admirar e parágrafos que me fazem relembrar onde e como eles foram escritos, o que muitas vezes aconteceu numa espécie de febre ou transe. Discute-se muito a questão do narrador do romance e quanto daquilo que ele conta é inventado ou imaginado.
Muito pouco, na minha opinião. Os seus poderes de observação me impressionam muito, e eu tendo a confiar nas suas descrições das cenas. Se ele -e com quase certeza ele não é o autor- demonstra um certo grau de descrença e anseio, compreendo isso em vista da posição em que foi colocado. Ele tem vários dos meus sentimentos, mas a experiência é toda sua."

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