São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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Laura de Vison quer provocar o público de "Babel"

RONALD VILLARDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O performer carioca Laura de Vison, 58, toma o palco do teatro de "Babel" hoje às 22h50. Professor de história, Norberto Chucri David ganhou notoriedade por ingerir fezes e vísceras cruas de animais em suas performances em seus shows no Rio.
Programa obrigatório do circuito alternativo/moderno/gay carioca, os shows de Laura atraem espectadores como o estilista Jean-Paul Gaultier, quando em visita à cidade.
Na performance de hoje, Laura vai fazer um strip-tease -com seus 150 quilos- e provocar "qualquer reação" no público: "Vou xingar muito as pessoas; só não quero ninguém estático. Só assim elas podem extravasar o que lhes incomoda".
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Folha - Quando nasceu Laura de Vison?
Laura de Vison - Em 1981, depois que resolvi parar de estudar teatro tradicional. Mas logo concluí que este tipo de encenação era muito parada. Então tive a idéia de me vestir de mulher e aí sim provocar um pouco as pessoas.
Folha - Que tipo de reação você espera despertar em quem assiste suas apresentações?
Laura - Espero reações de qualquer tipo. Só não quero ninguém parado, estático. Pode me xingar, jogar coisas, não importa.
Folha - A irreverência com que você se apresenta -ingerir cérebros de animais em cena etc.- é tida por muitos como uma agressão.
Laura - O que é agressão, afinal? As pessoas são muito presas a coisas pré-estabelecidas, não se soltam. Eu peso mais de 150 quilos e vou fazer um strip-tease no "Babel'. A idéia é que todo mundo se sinta belo, não importa o que os outros achem.
Folha - Você ainda é professor de história?
Laura - Me aposentei no ano passado.
Folha - Como era o relacionamento com suas classes?
Laura - Maravilhoso, mesmo depois que ficou pública a história de que eu era drag-queen/travesti/transformista e fazia show na noite.
Folha - Nunca houve uma reação hostil?
Laura - Nunca. Um dia até utilizei os talentos teatrais para dar uma aula sobre civilização egípcia. Falava dos egípcios enquanto me vestia de Cleópatra. Fui despedido desta escola 18 anos depois disso, porque assumi ser homossexual. Mas no próximo ano volto a lecionar.
Folha - Você já se apresentou em São Paulo?
Nunca. Estou ansiosa, vou xingar muito as pessoas, só para elas ficarem com raiva. Só assim elas poderão extravasar o que lhes incomoda.

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