São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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"Con Air" segue rota de total previsibilidade

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um dos mais dramáticos momentos de "Con Air - A Rota da Fuga", que estréia hoje, um homem escapa de um cerco de policiais, detentos foragidos, traficantes e termina a noite explodindo um cassino em Las Vegas.
Nas mãos de um diretor como Mel Brooks seria uma comédia, ainda que a rejeitássemos em nome de um suposto bom senso. Mas sob o olhar do britânico Simon West -formado em publicidade, premiado por comerciais de pizza- o filme é, ou ao menos deveria ser, uma aventura.
Com estréia simultânea nos EUA, "Con Air" repete um típico esquema das produções hollywoodianas dos anos 70. Consegue agrupar um número significativo de astros médios e os coloca em um pretenso roteiro de ação.
Isso, no período, ficou conhecido por filme-catástrofe. No caso de "Con Air", a catástrofe parece ser o próprio filme.
Um militar (Nicolas Cage) volta para sua casa no Alabama com o desejo de encontrar a mulher grávida. Na mesma noite, em uma briga, mata um homem e é condenado a sete anos de prisão.
Mas estamos na introdução. No dia em que consegue a liberdade condicional, Cameron Poe é colocado em um avião que carrega a "escória da humanidade".
Trata-se de assassinos seriais, estupradores e, como sempre nesses casos, um líder (John Malkovich) que mata por prazer e parece ter mais cultura e sobriedade -apesar de sua insanidade- do que todos os policiais da América.
A força da previsibilidade produz o motim, e a única esperança de Poe em conseguir encontrar sua família é um policial (John Cusack) que anda de sandálias e tem uma visão "humanista" sobre as razões que geram os criminosos.
Depois da fórmula apresentada, o desenvolvimento. O herói, por natureza, deve salvar o dia. E, ao vilão, resta a rigorosa punição.
Assim como a totalidade de seus personagens, "Con Air" não oferece muita esperança. Está aprisionado na ambição de ser um sucesso e, para isso, prefere os clichês a qualquer forma de invenção, sendo o resultado pouco equilibrado da mistura de "Duro de Matar", "Aeroporto" e "O Silêncio dos Inocentes".
O mais espantoso é que "Con Air" não é fruto do erro grosseiro, da mais pura inabilidade, mas da intenção. E pouco importa atacar as limitações de West, porque sua função é quase burocrática.
Estamos diante de um outro lugar-comum das realizações cinematográficas: o conceito de "filme de produtor" (no caso, Jerry Bruckheimer, o mesmo de "A Rocha"), em que todas as soluções criativas partem do responsável em fazer do filme um sucesso.
Não há, a princípio, nenhuma condenação em fazer fortuna com cinema (o misterioso cruzamento de arte e negócios), mas como em toda transação comercial é necessário um mínimo de honestidade.
"Con Air" não pode oferecer nem a sua incapacidade. Nem, ao menos, um passatempo. Oferece apenas um policial de sandálias.

Filme: Con Air - A Rota da Fuga
Produção: EUA, 1997
Direção: Simon West
Com: Nicolas Cage, John Cusack, John Malkovich, Steve Buscemi
Quando: a partir de hoje nos cines Astor, Center Norte 3, Ibirapuera 2 e circuito

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