São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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Arena-2, o eterno regresso

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Lembra-se da Arena, aquele partido artificial criado pelo regime militar para dar uma aparência democrática à ditadura? Lembra-se de Francelino Pereira, aquele político mineiro que, na presidência da Arena, decretou que se tratava do "maior partido político do Ocidente"?
Pois é. Francelino tinha (e tem) razão. A Arena domina a edição de ontem da Folha. A começar pelo próprio Francelino, que, na página 1-8, aparece no centro da foto, pronto para fazer o que a Arena sempre fez: aplaudir o governo de turno (no caso, aplaudir a aprovação da emenda da reeleição).
A Arena está também nas fotos da capa. Em cima, Luís Eduardo Magalhães, hoje PFL-BA, antes Arena, cumpre outro gesto típico do "arenismo": cumprimenta o poderoso de plantão, do qual virou articulador político.
Na foto mais abaixo, outro arenista, Fernando Collor de Mello, faz o que mais sabe fazer: finge. Chora no enterro de frei Damião. Mais falso do que nota de R$ 3, mas hábil o suficiente para continuar enganando os crédulos, como antes enganara 35 milhões de brasileiros.
Na maioria, vítimas, aliás, do secular "arenismo" da política tupiniquim, que consiste em manter as massas na miséria e na ignorância, para que se tornem presas fáceis dos aproveitadores de plantão.
A Arena é o David Copperfield da política. Parece que sumiu, parece que foi fatiado em mil pedaços, apenas para reaparecer mais adiante, bonito e lampeiro. A única diferença é que Copperfield reaparece sempre como ele próprio.
A Arena, não. Muda de nome, vira PDS, vira PFL, antes era PSD, mas a essência é a mesma, a das capitanias hereditárias.
Tanto é assim que, aprovada de vez a reeleição, os neoarenistas correram ao príncipe da vez, como antes faziam com os generais, para lhe apresentar o troféu. Uma emenda que deveria ser um aperfeiçoamento do processo político virou vassalagem.

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