São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997
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Posição do Brasil sobre Alca cria consenso

DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários, trabalhadores e governo conseguem ao menos defender um ponto em comum a respeito da política comercial brasileira. O consenso é que, nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o Brasil não deve ter pressa em concluir qualquer acordo.
Em evento promovido nesta semana pela Folha e pelo Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, especialistas em comércio exterior discutiram a Alca.
O debate girou em torno dos principais problemas que o Brasil deverá enfrentar ao negociar a criação da área de livre comércio.
Participaram José Augusto Guilhon de Albuquerque, diretor do Núcleo; Roberto Teixeira da Costa, economista, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários e vice-presidente do conselho de administração do Banco Sul América; Rafael Freire, da secretaria de Assuntos Internacionais da CUT (Central Única dos Trabalhadores), e o embaixador José Botafogo Gonçalves, do Itamaraty.
Para o diplomata, o Brasil precisa de tempo para que se termine o ajuste da economia, por meio das reformas constitucionais e de investimentos em infra-estrutura.
No entanto, disse Gonçalves, não será possível ao país, e nem é conveniente, retroceder.
Aos críticos da abertura comercial, o embaixador questionou qual seria o custo de manter o país fechado ao mercado internacional.
"O modelo brasileiro de industrialização por substituição de importações foi um grande sucesso, mas se esgotou; temos que encontrar um novo modelo, e mudar de modelo tem um custo", afirmou.
Para o economista Roberto Teixeira da Costa, nas negociações da Alca "estamos lidando com a economia mais forte do mundo e devemos nos questionar qual o preço que estamos dispostos a pagar por essa integração".
Segundo ele, as empresas brasileiras fizeram um ajuste "dramático" para se adaptarem à abertura comercial desta década.
Na avaliação da CUT, a estratégia de ganhar tempo é positiva desde que seja usada para maior discussão sobre os impactos sociais das políticas de livre comércio.
Segundo Rafael Freire, da Central, a abertura indiscriminada ocorrida nesta década acarretou o corte de 2 milhões de empregos na indústria, devido à concorrência internacional.
"O livre comércio não pode ser um fim em si mesmo; ou está ligado ao desenvolvimento sustentado, ou então é extremamente prejudicial ao país", afirmou.
Outra preocupação da CUT é que a criação da Alca não seja acompanhada, por exemplo, de uma política industrial, defendida inclusive por Teixeira da Costa.
O governo, porém, tem respostas prontas para as críticas.

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