São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997
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O calvário de Tenorinho

Os últimos dias do pianista
. 18 de fevereiro de 1976
Tenório Jr., 34, parte do Rio para uma excursão sul-americana com o violonista Toquinho e o poeta Vinicius de Moraes
. 17 de março
Depois de passar por Montevidéu e Punta del Este, no Uruguai, se apresenta em Buenos Aires, à noite. É a última etapa da turnê
. 18 de março
Em torno das 3h, deixa o hotel Normandie (centro de Buenos Aires), onde também estão hospedados os demais artistas brasileiros. Entrega um bilhete na recepção: "Vou sair para comer um sanduíche e comprar um remédio. Volto logo"
Às 4h, agentes do Serviço de Informações da Argentina o abordam na avenida Corrientes, perto da rua Rodriguez Peña. Mandam que encoste à parede, pedem-lhe os documentos e o revistam. Não encontram nada. Mesmo assim, o levam, encapuzado, para a Comissaria 5A, uma delegacia de polícia. Julgam-no "suspeito" por usar "cabelo grande, barba e uma vestimenta mais ou menos hippie" e por ter "fisionomia semelhante à de Che Guevara e Fidel Castro"
Na delegacia, o músico preenche um formulário de rotina e segue para a Escola Mecânica da Armada (Esmar), pertencente à Marinha. É jogado em uma cela
Pela manhã, agentes apreendem toda a bagagem de Tenorinho no hotel Normandie enquanto as autoridades argentinas acionam a embaixada do Brasil. Quando descobrem que o pianista não tem nenhum antecedente político e é filho de delegado, pensam em libertá-lo. Mas o SNI, serviço brasileiro de informações, se interessa pelo preso
À tarde, durante duas horas, militares dos dois países torturam Tenório Jr. com choques elétricos. Querem saber se conhece "músicos comunistas". Ele resiste e não revela o nome de ninguém
. 20 de março
O pianista sofre novo tipo de tortura, batizada de "submarino". É pendurado de ponta-cabeça, com os tornozelos amarrados e as mãos algemadas para trás. Entre uma pergunta e outra, os carrascos o mergulham num tonel de água. Mais uma vez, não conseguem arrancar do prisioneiro nenhum nome
. 21 ou 22 de março (a data é incerta)
Um alto funcionário da embaixada brasileira visita Tenorinho na cadeia
. 27 de março
Em comum acordo, militares do Brasil e da Argentina decidem executar o pianista porque, se fosse solto, "poderia comprometer muita gente". Tenório Jr., encapuzado, recebe um tiro de fuzil na testa. É enterrado com o nome falso de Marcelo Fernandes em um cemitério de Buenos Aires, o La Chacarita

Fonte: Ex-soldado Cláudio Vallejos (em entrevista à revista "Senhor", do dia 20 de maio de 1986) e Frederico Mendonça de Oliveira

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