São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997
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O monopólio da virtude

SILVIO TORRES

As denúncias que envolveram prefeituras do PT são graves e devem ser levadas a sério. Tenho as minhas convicções sobre o caso, mas não me apresso a considerá-las verdadeiras e, por isso, não posso culpar nem condenar pessoas e empresas colocadas sob suspeição por um membro do próprio partido, que acusou de corrupção e tráfico de influência dirigentes petistas.
O PT certamente não agiria dessa forma. A esta altura, já estaria ocorrendo mais uma disputa interna para escolher que facção ou qual parlamentar encabeçaria um pedido de CPI, vinculando provavelmente os fatos "ao modelo neoliberal do governo FHC" e distribuindo insultos ideológicos aos que se atrevessem a não concordar com a iniciativa.
Em grande parte, essa falta de parcimônia nos julgamentos e de respeito às idéias divergentes tem levado o PT a exacerbar críticas em seus conceitos condenatórios acerca das correntes políticas com as quais se defronta.
E, nessa linha, o PT quer assumir o papel de patrulheiro da legalidade, da ética e da dignidade, como se um poder divino lhe houvesse destinado o monopólio da virtude e da defesa do interesse público.
Por essas e outras razões é que ele se desorienta e se perde em explicações inconvincentes quando denúncias deixam transparecer desvios e irregularidades que seus militantes costumam atribuir apenas aos demais partidos.
Não creio, entretanto, que as denúncias contra o PT comprometam irremediavelmente a imagem do partido, que exerceu e exerce um respeitável papel na modernização dos costumes políticos do país, em particular nas últimas duas décadas, quando se tornou contraponto fundamental para o equilíbrio de poder na sociedade brasileira.
Mas, sem dúvida, para uma ponderável parcela da opinião pública, perdeu a pretensa aura de partido imaculado com a qual ainda iludia os mais ingênuos e desavisados.

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