São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Notícias positivas

JANIO DE FREITAS

Até que enfim, uma semana tão fértil em boas notícias que vale a pena rememorá-las, dada a probabilidade de que a euforia provocada por qualquer delas tenha reduzido a atenção do leitor para as demais.
Em respeito à moda, a privatização inicia as rememorações. Primazia merecida de fato, pela importância que os telejornais e as manchetes identificaram no primeiro ato da privatização de serviços telefônicos: "Privatização torna celular 52% mais barato".
Presume-se que, passada a conveniente comemoração, o leitor se tornou apto, outra vez, para os complementos informativos menos condizentes com o jornalismo brasileiro e mais fundados na realidade. O barateamento é na taxa para obtenção da linha na região Centro-Oeste, taxa que pelo mundo afora é gratuita ou a preço apenas simbólico, para caracterizar o contrato de serviço. Ao pagar a taxa de R$ 158,40 mais impostos, o brasileiro continuará sob a mesma exploração. Mas a taxa nem é tudo nem o pior: o preço das ligações, que aqui é escorchante e representa despesa permanente, continuará o mesmo.
Assegurada a propaganda da privatização, já outro feito positivo se oferecia. Em maio diminuiu o buraco que todos os meses se apresenta entre as importações e as exportações. Justificou-se a recepção dada ao número emagrecido pelos jornalistas especializados, porque o rombo nos cinco meses do ano já é superior a R$ 4 bilhões.
É verdade que, antes de acabar o mês, o "Monitor Mercantil", do Rio, prevenia contra euforias infundadas ao noticiar que "a retenção das importações está segurando artificialmente o déficit da balança comercial em maio", um truque "usado pelo governo para acalmar investidores que ameaçam retirar seu dinheiro de curto prazo do país".
Como as exportações subiram um pouco em maio, isso proporcionou uma explicação agradável para a diminuição do buraco, quando confirmada há quatro dias. Mas o mesmo "Monitor" pôde dar a notícia com o título "Maquiagem das importações reduz rombo" e com a demonstração de que houve uma protelação malandra nas importações de petróleo.
O fecho da semana foi dado pelo ministro Antonio Kandir, com a divulgação de um plano que vai tornar a casa própria acessível a todos, com financiamento a juros baratinhos, e vai dar milhões de empregos, com a retomada das construções. O governo de Fernando Henrique é seduzido por planos de financiamento da casa própria. É o sexto que lança. Os anteriores não passaram de farsa. Ou "eventos para produzir notícias positivas", como dizem no governo.
A semana que entra promete, também, outros eventos positivos. As votações desejadas pelo governo, por exemplo, poderão ser retomadas: Sérgio Motta, já sufocado o escândalo da compra de votos na Câmara, estará de volta ao serviço.

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